Sistemas de alerta e sentinela ajudam no controlo de doenças profissionais

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As doenças e lesões relacionadas com o trabalho custam 3,3% do PIB da EU, o que representa 476.000 milhões de euros/ano que poderiam ser economizados com sistemas, políticas e práticas adequados em matéria de saúde e segurança no trabalho (SST). A Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (EU-OSHA) apresentou recentemente os resultados de um grande projecto que reúne peritos e decisões políticos europeus.

O relatório “Alertas e abordagens sentinela para a identificação de doenças relacionadas com o trabalho na EU” mostra o modo como estes sistemas funcionam para identificar problemas de saúde emergentes no trabalho, iniciar intervenções de saúde e prevenção precoces e apoiar a elaboração de políticas baseadas em factos.

Este projecto demonstra a utilidade dos sistemas de alerta e sentinela enquanto complemento aos instrumentos já utilizados para controlar as doenças profissionais conhecidas, ao ajudarem a detectar novas doenças relacionadas com o trabalho.

Os exemplos incluem a “doença de popcorn”, uma doença pulmonar grave que afecta os trabalhadores das fábricas, e problemas cardíacos resultantes da exposição ao monóxido de carbono numa instalação de transformação de café.

Recomenda igualmente formas como os decisores políticos e os intervenientes no domínio da SST podem implementá-los.

O projecto foi concebido para incentivar o intercâmbio de informações e promover histórias de sucesso.

A directora da EU-OSHA, Christa Sedlatschek, espera que “o projecto da EU-OSHA venha a servir de inspiração para a implementação de sistemas de alerta e sentinela nos países onde ainda não existem”.

O relatório identificou 75 sistemas de vigilância utilizados em 26 países. Uma análise aprofundada de 12 dos sistemas mostra as diferentes abordagens que podem ser seguidas e revela a sua força e versatilidade.

São descritos aspectos práticos da sua implementação e pontes com a prevenção e a definição de políticas, e o relatório mostra também como uma função de alerta e sentinela pode ser adicionada a um sistema de monitorização existente.

Por exemplo, o SIGNAAL é um sistema de sentinela baseado num serviço de notificação em linha para recolher, de forma prática, rápida e fácil, suspeitas de novas relações entre os problemas de saúde e o trabalho. O sistema foi desenvolvido por peritos holandeses e belgas.

O registo norueguês de doenças relacionadas com o trabalho (RAS) é um registo nacional gerido pela autoridade de inspecção do trabalho norueguesa que implementa um quadro para eventos de saúde sentinela com um limiar de comunicação baixo para tornar a comunicação de casos suspeitos relacionados com o trabalho tão fácil quanto possível.

As principais conclusões refletem igualmente sobre as seguintes questões:

  • Não há um sistema de vigilância ideal. São descritos vários sistemas, cada um com vantagens e desvantagens. As partes interessadas devem considerar o contexto em que o sistema irá funcionar, aprender com os exemplos de boas práticas e procurar aplicar abordagens que complementem as já em vigor;
  • Foram identificadas algumas lacunas de monitorização. Certos grupos específicos de doenças relacionadas com o trabalho, em especial doenças multifatoriais e com períodos de latência longos, tais como doenças mentais, perturbações musculo-esqueléticas e alguns tipos de cancro, ou os potenciais efeitos para a saúde de tecnologias novas e emergentes, como as nanotecnologias ou a robótica avançada, não são actualmente objecto de um acompanhamento adequado. Além disso, a tónica tende a ser colocada nos sectores tradicionais, como a agricultura e a construção, e deve ser alargada a fim de integrar setores negligenciados, como o sector hoteleiro, restauração e catering e sectores em crescimento como os serviços de comunicação e e de TI;
  • Factores importantes para o desenvolvimento destes sistemas incluem a partilha de histórias de sucesso sobre o contributo destes sistemas para a identificação de novas doenças relacionadas com o trabalho e a sua prevenção. Este aspecto é essencial tanto para motivar as pessoas a comunicar casos como para atrair apoio político e financeiro. O reforço da colaboração com os organismos nacionais de SST e com os organismos de saúde pública é também um factor de sucesso fundamental para a materialização das conclusões dos sistemas em políticas concretas. A cooperação internacional e a partilha de dados entre os Estados-Membros é importante para melhorar a vigilância de alerta e sentinela na UE.