COVID-19 – Além do risco biológico

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Por Cristina Sobral, Health, Safety & Compliance Manager na The Summer Berry Company Portugal

Palavras que outrora tinham conotações negativas, tais como, “distanciamento”, “separação” e “segregação” adquiriram, nas últimas semanas, novos significados, mais facilmente associados a responsabilidade, cuidado, saúde e segurança. A Covid-19 trouxe também outro paradoxo às nossas vidas pessoais e profissionais: uma distância física acompanhada da necessidade crescente de comunicar, o que só pode ser feito tendo por base o recurso a tecnologias de informação e comunicação. O canal de comunicação que é quase unanimemente considerado mais rico, o interpessoal, tem, neste contexto, de ser substituído por outros canais, marcadamente digitais: vídeo chamadas, telefonemas, mensagens escritas, redes sociais, etc.

O meu trabalho enquanto gestora de Health, Safety & Compliance na The Summer Berry Company Portugal, uma empresa agrícola produtora de pequenos frutos, a operar em Odemira, tem sido particularmente influenciada pelo surto da Covid-19. Por um lado, inserimo-nos num setor produtor de bens essenciais que, por este motivo, não pode interromper a sua atividade. Por outro lado, vários dos nossos colaboradores não podem trabalhar remotamente, pelas especificidades das tarefas que desempenham. Assim, foi necessário encontrar um equilíbrio que permitisse, de forma segura, manter grande parte dos nossos colaboradores a operar a partir do seu normal posto de trabalho.

De forma prática, temos conseguido, já desde fevereiro, ainda antes da chegada da doença a Portugal, mas já sob a orientação da DGS, da Organização Mundial de Saúde, e com o apoio da nossa médica de trabalho, estabelecer medidas que, dentro do nosso contexto laboral, protegem a saúde dos nossos colaboradores. Para além do risco biológico associado, os riscos psicossociais assumiram uma enorme relevância no início da pandemia. Foi necessário gerir a ansiedade e o medo de todos os nossos colaboradores que continuaram a laborar, riscos do foro psicológico que foram largamente superiores ao risco biológico existente na altura. A verdade é que todos nós estamos a lidar com uma nova ameaça sobre a qual pouco se sabe e sobre a qual fomos bombardeados de informações assustadoras. Nunca na minha vida profissional revi tanto as medidas preventivas associadas a um risco e mudei/melhorei tantas vezes medidas preventivas e/ou recomendações em nome das boas condições de trabalho.

Todas as medidas adotadas são particularmente desafiantes numa empresa com cerca de 350 colaboradores, detentores de treze nacionalidades diferentes (dados de 2019), falantes de diferentes línguas e oriundos de diferentes culturas. O inglês aqui assume-se como língua oficial, com recurso sempre que possível à tradução para as línguas mais faladas internamente.

A política de porta aberta em vigor na empresa passou a ser uma política de canais sociais abertos. Não deixamos nunca de esclarecer e acompanhar os nossos colaboradores, mas agora remotamente. Tudo fazemos para que os nossos colegas estejam não só fisicamente seguros mas também tranquilos e confiantes de que a sua saúde e segurança estão sempre em primeiro lugar.