Espírito de Missão

Estado Notícias

São mulheres, portuguesas e em comum têm, também, a experiência e participação em missões internacionais. Acompanharam no terreno operações na Colômbia, Grécia, Iémen, República Centro Africana, Somália e Sudão do Sul e transportaram com elas o espírito de missão do Exército, Força Aérea, Marinha, Polícia Marítima e Polícia de Segurança Pública.

O som da cidade de Bogotá, sempre muito “enérgica e atarefada”, e do apregoar dos vendedores de rua no final de tarde ainda está bem presente na memória de Susana Marques. A major da Força Aérea Portuguesa recorda os meses que passou na Colômbia entre Fevereiro de 2018 e Março de 2019. Foi nomeada pelo Estado-maior General das Forças Armadas, no final de 2017, para integrar a missão de verificação das Nações Unidas na Colômbia.

Os princípios da carreira militar estão consagrados no art. 123º do EMFAR, sendo que dois desses princípios dizem respeito à flexibilidade e mobilidade, pelo que “a realização de uma missão no estrangeiro poderá estar, inevitavelmente, no horizonte da carreira de um militar”, conta. Porém, a sua concretização “poderá ser mais ou menos exequível devido, em grande parte, às características do teatro de operações e respectivas qualificações técnico-profissionais necessárias”.

Já na Colômbia apoiou os observadores internacionais – designação dada aos militares e policias que integram a missão – em todos os processos administrativos na sede da missão em Bogotá (check in, check out, vencimentos, registo de dados no sistema de informação de gestão de pessoal, pagamento de viagens para cumprimento da missão fora da duty station destinada, entre outros). “A escolha da minha posição ocorreu na sede das ONU, em Nova Iorque,  e deveu-se à minhas experiência em Recursos Humanos”, diz. 12 meses de missão permitiram-lhe ganhar experiência, imergir na dimensão social e cultural de um país latino-americano e aplicar conhecimentos ao serviço de “um propósito grandioso – a paz”.

Susana Marques, major da Força Aérea Portuguesa

A manutenção da paz e a protecção dos civis estão, aliás, integrados em grande parte das missões da ONU, tal como acontece na missão ao Sudão do Sul, país que enfrenta ainda problemas territoriais. 5375km separam Lisboa daquele que é o mais jovem país do mundo, localizado em África. Madalena Rodrigues, chefe da Polícia de Segurança Pública (PSP), integrou, voluntariamente, o primeiro contingente português a pisar o solo daquele país, entre 2 de Junho de 2018 e 2 de Julho de 2019, numa missão desarmada. Seis anos depois de ser constituído como país, esta “foi a primeira vez que a polícia portuguesa esteve no Sudão do Sul”, recorda. Um desafio acrescido pois “percebermos a dinâmica da missão e conquistarmos determinados postos de trabalho, de forma a darmos o nosso contributo profissional e pessoal para o desenvolvimento do país e mudança de mentalidades, leva o seu tempo”. Saiu de Lisboa, fez escala no Dubai, passou uma semana na base da ONU em Entebbe, Uganda, e rumou depois para Juba (capital) no avião das Nações Unidas.

Como Individual Police Officer (IPO), ficou responsável pela monitorização da existência de violações dos direitos humanos num campo PoC (Protection of Civilians), em Juba. Num país saído de uma guerra civil, os problemas sociais e políticos estão ainda bem patentes. “O mais rudimentar que existe na vida do ser humano está ali”, recorda, enquanto descreve as condições precárias vividas naquelas “verdadeiras cidades”, feitas de tendas, onde a água é abastecida por camiões,  as lutas entre tribos são ainda uma realidade e as crianças usam carrinhos de mão para transportar sacos de farinha. Madalena Rodrigues não gosta de rotinas, gosta de aprender e encara com determinação todos os desafios com que se depara. Foi com esse espírito que, durante a missão, dedicou-se à componente de formação das Formed Police Unit (FPU) no compound do Nepal, e, paralelamente, concorreu a um lugar de instrutora nas Nações Unidas, o que lhe permitiu rumar até ao Sri Lanka e o Nepal para seleccionar pessoas a integrar e renovar a missão.

Madalena Rodrigues, chefe da Polícia de Segurança Pública

De viagem para o extremo Sul da península arábica, no Oeste da Ásia, está o Iemen. Com uma costa de 2.000km, faz fronteira com a Arábia Saudita, Mar Vermelho, Golfo de Áden e Canal Guardafui, Mar da Arábia e Omã, e enfrenta hoje uma instabilidade política e declínio económico, fruto de um conflito entre rebeldes xiitas houtis  e as forças sunitas . Carla Costa,  intendente da PSP, esteve envolvida na missão entre Dezembro de 2019 e Junho de 2020 como observadora internacional com a função de monitorizar o cumprimento do compromisso das partes, além de ter desempenhado funções no centro de comandos e controlo operacional.

A missão política de apoio à implementação de um acordo de cessar-fogo não permitia o uso de uniforme ou armamento.  A viagem até ao local foi longa. “Fui para a Jordânia com escala em Istambul (…) depois foram sete horas de carro até Hudaydah por montanhas”. Porém, a viagem poderia ter sido bem mais longa. “Contámos 26 postos de controlo no caminho”, recorda. Guarda no seu pequeno bloco de apontamentos, que a acompanhou toda a viagem, a esperança nos rostos de “umas meninas que caminhavam para a escola com livros debaixo do braço” e a vida de um povo que “tem pouco” ou quase nada para sobreviver.  “Ao longo de cerca de 90km, num percurso em veículos blindados até chegar ao porto, vi esperança entre o contraste de vilas destruídas, uma imensidão de deserto junto ao mar e a vida retratada naquelas crianças”. Cerca de 24 milhões de pessoas no Iémen precisam de apoio humanitário e mais de 20 milhões sofrem de insegurança alimentar. O caminho até à paz, acredita que, ainda “é longo”, sendo que apesar do cessar-fogo, “o conflito mantém-se”.

Carla Costa, intendente da PSP (a segunda da direita para a esquerda)

O desembarque de 13 botes, com cerca de 40 migrantes por bote, a cerca de 1km de Skalla Skaminia é a imagem que invade o pensamento de Dulce Rodrigues. A agente de primeira classe da Polícia Marítima, participou na operação POSEIDON, para a qual se voluntariou. “Este acontecimento ocorreu no final da tarde, perto das 17h30/17h45 (hora local), quando o team leader recebeu um telefonema da Guarda Costeira grega a solicitar a nossa colaboração para um desembarque de botes na costa grega, vindos da Turquia”. O que inicialmente “parecia ser uma situação de dois ou três botes, aumentou para 13 e 546 pessoas”. “(…) foi difícil de controlar (…)”, porém, diz, foi possível “manter a multidão junto dos respectivos botes e coordenar o seu encaminhamento para o campo de refugiados”. Quando as pessoas conseguem atravessar a fronteira marítima “chegam, muitas vezes, em condições frágeis (…) a nossa acção tem de ser o mais célere possível (…) e o nosso lema «no mar, mais além, por bem» é o que melhor traduz tudo isto”, aponta.

Durante dois meses teve como função detectar embarcações que saem da costa turca em direcção à costa grega. “Este trabalho é feito em articulação com a equipa da Polícia Marítima que se encontra na embarcação de patrulha costeira”, conta. Dulce Rodrigues trabalhou com uma equipa de 12 pessoas e destaca a importância do trabalho de equipa. “O grande companheirismo existente entre todos foi fundamental para o bom desempenho obtido nesta operação”. Além disso, sublinha a importância dos “excelentes profissionais da Polícia Marítima e da Autoridade Marítima Nacional”.

Dulce Rodrigues, agente de primeira classe, Polícia Marítima

O mar liga-a a Ernestina Santos Silva, capitão-tenente da classe de técnicos superiores navais, que integra a Marinha, como jurista, há 21 anos. Regressou do oceano Índico em meados de Março de 2020, depois de participar na EU NAVFOR Somália, operação ATALANTA. Esta é uma operação da União Europeia de combate à pirataria ao largo da costa da Somália. Entre 3 de Dezembro de 2019 e 17 de Março de 2020 exerceu funções de conselheira jurídica no Estado-maior do Comando da força-tarefa, exercido por um oficial general da Marinha portuguesa, a bordo de dois navios espanhóis, o ESPS Victoria e o Numancia, juntamente com cinco militares portugueses e três de outras nacionalidades. Esta composição “representou um desafio face à diversidade de tarefas e acções e dimensão da área de operações que abrange a faixa costeira da Somália, bem como o seu mar territorial e águas interiores, o Sul do Mar Vermelho, Golfo de Áden e grande parte do oceano Indico, incluindo Seychelles, Maurícias e Comores.

Esta não foi a primeira vez que participou numa missão. “Foi a terceira vez que participei e fui projectada para esta área de operações”, conta. A primeira nomeação aconteceu em 2010, com  projecção no primeiro semestre de 2011. Globalmente, esta é uma operação à qual já dedicou os últimos 10 anos do seu percurso profissional, uma realidade que lhe permite fazer uma análise clara sobre a evolução da mesma. “O que se tornou mais marcante nesta missão foi verificar o decréscimo significativo da actividade de pirataria naquelas águas, o que significa a devolução da liberdade de navegação aos estados costeiros, navios mercantes e de recreio e ao mundo, em geral”, comenta. Outro aspecto que destaca é “o sucesso da protecção que é assegurada aos navios fretados pelo programa alimentar mundial e que asseguram a distribuição de ajuda alimentar na Somália, onde este apoio humanitário é tão essencial para as populações”.

Ernestina Santos Silva, capitão-tenente da classe de técnicos superiores navais, Marinha (primeira à direita)

Já em terra, a próxima paragem leva-nos à República Centro Africana. O país vive  um período de violência sectária entre grupos muçulmanos e milícias cristãs. Joana Ramalho, tenente-médica, e Adriana Barbosa, socorrista e 1º cabo, integraram a 6ª Força Nacional Destacada do Exército Português na RCA durante seis meses (12 de Setembro de 2019 a 12 de Março de 2020) para dar apoio médico e sanitário ao 1º batalhão de para-quedistas  (Bipara), de Tomar, num total de 180 elementos, dos quais dois médicos, três enfermeiros e três socorristas. Durante a missão, a força contou com viaturas de emergência médica, sendo que Adriana Barbosa conduziu a viatura principal, uma ambulância Pandur 8/8.

Cerca de 400km separavam a base do local onde, numa das situações, a força esteve projectada. Uma viagem de três dias por terra batida, em colunas de 20 a 30 viaturas. “Montávamos o burro do mato (cama) na rua, com uma rede e dormíamos ali”, recorda Joana Ramalho. Apesar do contacto com os civis ter sido pontual, a tenente-médica (que já tinha integrado a missão a Moçambique após a passagem do ciclone Idai), recorda-se das idas ao mercado local, perto da fronteira com os Camarões, onde os alimentos estavam expostos no chão. “O cheiro é inesquecível”, relata. “Recordo-me de ver ratos escalados, bacias de minhocas fritas e das nossas garrafas de água cheias de sumo de frutas (…) as nossas garrafas de plástico vazias são extremamente valiosas e era comum encontrar-mo-las à venda no mercado, no dia seguinte”.

Adriana Barbosa (ao centro), socorrista e 1º cabo, Exército

Num país com uma esperança média de vida é de pouco mais de 50 anos, o risco de contágio de doenças graves, nomeadamente do ébola, é real e todos os cuidados são poucos. Adriana Barbosa aponta que, “o tipo de terreno e o clima foram os principais desafios” desta missão. Porém, também ela destaca os vários problemas existentes num dos países mais pobres do mundo. “(…) vermos tantas crianças e famílias inteiras sem o mínimo de condições, e o facto de estarmos mais sensíveis, vivemos esses problemas de forma diferente (…) somos ricos e não sabemos”. Seis meses intensos, onde “o principal mecanismo que nos guia é a amizade e profissionalismo pois todos precisam de todos”, refere.

“Treino Duro, Combate Fácil”

A participação numa missão requer uma preparação prévia. “A preparação para qualquer missão tem sempre duas dimensões – a profissional, onde inclui o formativo – e a pessoal”, esclarece Susana Marques. A máxima militar – “treino duro, combate fácil” – aplica-se a todas as missões, sejam num contexto diplomático ou operações no terreno. “Institucionalmente a minha instrução abarcou todas as dimensões, desde a sobrevivência em ambiente hostil ao enquadramento político”, diz. Já a nível pessoal destaca a importância da família e amigos para a “gestão da «ideia» da ausência prolongada”.

Joana Ramalho recorda também que do ponto de vista técnico, a força recebeu formação durante seis meses, nomeadamente de socorrismo, emergência, técnicas de combate, material de trauma, via aérea, socorrismo básico e exercícios vários, de forma, também, a criar e reforçar laços de camaradagem e percepcionar o trabalho no terreno. Na mala recorda-se de levar os seus amuletos da sorte: o colar da mãe e a fotografia dos sobrinhos. Já Adriana Barbosa fez-se acompanhar por um terço e um colar da Nossa Senhora de Fátima. Antes de embarcar recorda-se de sentir “um misto de sentimentos (…) pois o facto de deixarmos a nossa casa e cantinho e partirmos para um país desconhecido (…) é complicado”.

Joana Ramalho, tenente-médica, Exército (segunda à direita)

“Estava preparada para o pior”, relata Madalena Rodrigues. Porém, preparou-se o melhor possível, através de acções de formação e contacto com outras entidades. Na mala levou o indispensável, nomeadamente,  “um GPS, medicação, uma mochila com abastecimento de água, conservas, um telefone desbloqueado e a fotografia com a filha”. Nos dias que antecederam o embarque recorda-se das várias despedidas entre amigos. Acredita que uma postura determinada, altiva e confiante, uma boa preparação física e o sorriso são factores determinantes para o sucesso no terreno.

Integrar uma missão tem riscos associados, para os quais os profissionais no terreno estão sensibilizados. Em caso de algo correr de forma inesperada sabem que são os últimos a “abandonar o barco”. O medo reside muitas vezes em não conseguir fazer cumprir com as suas funções ou do sofrimento alheio.

Joana Ramalho levava na memória o acidente de viação vivido pela força anterior, quando uma das viaturas capotou, tendo o militar sido amputado das duas pernas. “O meu medo residia em não ser capaz de cuidar devidamente de algum camarada, ou seja, enquanto médica não conseguir fazer a minha função”, conta. Até porque,  “evacuar um militar e colocá-lo em segurança nas devidas condições são procedimentos que demoram bastante tempo e a vida pode estar em perigo”.

Consciente dos perigos existentes numa missão deste género, Carla Costa salienta que o medo “vence-se confiando na organização. Não estamos sozinhos e existe toda uma estrutura que nos apoia ao nível do planeamento, segurança e condições logísticas (…).

Ernestina Santos Silva acredita que “com dedicação, planeamento e aperfeiçoamento diário foi possível superar as dificuldades, num esforço apoiado pelo comando e guarnições das fragatas espanholas, que receberam o Estado-maior deste comando português com elevado profissionalismo e profundo espírito de cooperação e amizade”.

E se os valores de união, companheirismo e humanidade saem reforçados após a participação numa missão desta natureza, Susana Marques destaca como valores essenciais a ética, resiliência e self- awareness. “Todas as nossas acções têm uma dimensão maior do que a que representamos enquanto individuo, mas sim enquanto embaixadores de um país”. A major da Força Aérea levou com ela o livro “Amor em tempos de cólera”, de Gabriel Garcia Marques para comparar a perseverança, resiliência e superação de um personagem com a de um país no encontro de paz.

ONU: foco na igualdade de género

As Nações Unidas mantém-se empenhadas na paridade de género em missões internacionais, no entanto, a diferença em termos de valores (homens/mulheres) está longe de ser alcançada em algumas das missões onde participaram as profissionais portuguesas.  

No caso da missão do Iemen, por exemplo, contabilizam-se 23% de mulheres e 77% de homens, na República Centro Africana os valores sobem para 28% de mulheres e 72% de homens, na Somália contabilizam-se 31% de mulheres e 69% de homens e na Colômbia os valores aproximam-se para os 45% de mulheres e 44% de homens. Também no caso da missão no Sudão do Sul, hoje, contam-se 26% são mulheres e 74% homens. Madalena Rodrigues nota que, na missão que integrou àquele país, participaram, do lado português, quatro homens e quatro mulheres, um claro equilíbrio que contrasta com a realidade actual.

Globalmente, as exigências, desafios, realidades impostas às mulheres em nada diferem aos homens, até porque “as mulheres não são nem melhores nem piores que os homens, são diferentes”, diz Carla Costa. Esta diferença “representa uma força”. Porém, em situações onde há maior proximidade com as populações, nomeadamente mulheres e crianças, a participação de mulheres reveste-se de extrema importância. “ Inspiram mais confiança, têm outra sensibilidade”, refere. Além disso, “promovem uma atmosfera de menor conflito”.

Susana Marques explica que ser mulher numa missão “cujo foco se centra numa comunidade onde as mulheres têm um papel determinante na condução da família e sucesso do projecto é muito importante, na medida em que aproxima-nos e dirime qualquer inibição na abordagem a temas cujo forum seja, tradicionalmente, do universo feminino”, refere. Susana Marques, que esteve na Colômbia, destaca que muitos ex-combatentes eram mulheres. “O impacto da experiência reveste-se com sucesso da missão pela lição de oportunidade que pode dar-se a outras mulheres”, diz.

No caso do Exército, onde a proximidade com as populações é menor, Adriana Barbosa salienta que “a vivência das experiências não são muito diferentes de um homem. As dificuldades podem ser maiores para uma mulher em termos de organismo (…)”.

E se ser mulher nestes contextos, por vezes, se dissolve, no que toca à nacionalidade a realidade é outra. “Os portugueses são muito respeitados e existem sempre muitas referências contemporâneas que as outras nacionalidades gostam de mencionar, desde o futebol à literatura, passando pelo turismo”, comenta Susana Marques. Cristiano Ronaldo, Luís Figo ou José Saramago fazem parte do reportório. “Conheci uma observadora internacional do México que adora José Saramago e que durante a missão leu dois livros do nosso escritor”, diz.

Madalena Rodrigues conviveu de perto com colegas de 43 nacionalidades, nomeadamente da Argentina, Etiópia, Índia, Nepal, Noruega, Finlândia e Tailândia e constata que “percebeu no terreno que os portugueses são muito comunicativos, rápidos no pensamento, na apresentação de soluções e na resolução de problemas”. Hoje considera que a missão foi “uma aprendizagem” e permitiu-lhe “crescer muito profissionalmente”, tornar-se “mais ponderada e capacitada para aceitar a diferença”, aponta.

Também Carla Costa conviveu com 41 nacionalidades e considera que “ser portuguesa fez diferença pela positiva”, até porque “temos esta capacidade de diálogo e interacção com qualquer povo”.

Além do desenrasque e facilidade de adaptação, Adriana Barbosa salienta que os portugueses são “muito respeitados pelos outros países, tanto pela nossa audácia, como pelo companheirismo. Somos muito acolhedores e estamos sempre prontos a ajudar”.

Características inatas, conjugadas com um forte planeamento, formação, treino, preparação e suporte internacional, traduzem-se no sucesso no terreno. O caminho a percorrer, nestas e noutras missões, é, em muitos casos, longo e lento. Certo é o sentimento de dever cumprido e realização pessoal dos que regressam a casa após abraçarem, voluntariamente ou não, estes desafios, mesmo sabendo que o seu trabalho e dedicação, individualmente, são uma gota de água num gigantesco oceano.

A imprevisibilidade está sempre presente, em cenários marcados por extremos, cuja realidade seria, certamente, um murro no estômago para o comum dos mortais. Apoiadas por estruturas robustas e pelas novas tecnologias, que tantas vezes encurtam as distâncias das famílias, assim como pelo companheirismo e espírito de entre-ajuda, estas profissionais não têm dúvidas de responder afirmativamente a um novo desafio do género. A resposta é unânime, quer pelo seu dever profissional, quer pela experiência que trazem na bagagem e que lhes possibilita sair da zona de conforto, pensar diferente e abrir novos horizontes. Na memória fica a esperança e a força dos que ficaram. E como diria o poeta, “o caminho faz-se caminhando”.