A Falta de Condições de Segurança e Saúde no Trabalho e os Custos para as Partes Interessadas

Notícias Opinião Segurança no Trabalho

Por A. Costa Tavares

É de conhecimento geral que o ser humano não desempenha as suas funções, seja em que organização for, de forma isolada e compartimentada, pelo que, quando abordamos a questão da segurança, higiene e saúde no local de trabalho ela nunca deverá ser direcionada numa vertente individualista, em que apenas determinado trabalhador é afetado ou condiciona a sua própria segurança mediante os atos que comete, mas sim numa relação de grupo onde a sua segurança (ou falta dela por ação ou omissão) afeta também os seus colegas e outros grupos sociais como a sua família (que sofre numa segunda instância) ou clientes, fornecedores e outros públicos que interagem com a organização.

Investigando o acidente ocorrido, deparamo-nos inúmeras vezes que além do quadro de sinistro, os que dele (trabalhador entenda-se) dependem, – e em Portugal ainda há muita dependência de um dos membros familiares -, verificamos que a sua família é diretamente lesada em várias valências como a:

  • dimensão económica (diminuição da remuneração, aumento das despesas de reabilitação, medicamentação, fisioterapia, despesas patrimoniais se do acidente houver danos em máquinas ou outro tipo de equipamentos em que se apurou a culpa do próprio, entre outros)
  • dimensão social (se do acidente ocorrido resultar numa incapacidade permanente ou a morte cujos traumas psicológicos desconfortam os seus familiares e amigos para não esquecermos também os colegas de trabalho de proximidade obrigando a uma reformulação de papeis condicionando a procura de um segundo emprego por parte de familiares diretos para compensar a perda económica sentida assim como uma sobrecarga adicional de trabalho nos colegas da equipa cujo trabalhador foi afetado pelo infortúnio), e
  • dimensão pessoal (perda de autoestima, baixa moral, dor física e psicológica, sentimento de culpabilização entre outros sintomas que afetam também os seus familiares diretos)

Acresce a estas três dimensões, outras duas:

  • dimensão organizacional (uma vez que em consequência do acidente ocorrido houve operações de paragem na deteção, identificação e análise do acidente com custos diretos na produtividade, mas também no clima pesado que se gera de consternação e em última análise na imagem para o exterior ficando muitas empresas conotadas aos olhos do grande público em virtude de um acidente de trabalho de grande impacto mediático)
  • dimensão nacional – Portugal (cujos custos diretos e indiretos com a sinistralidade são muito elevados, basta analisarmos o contingente de pessoas que se encontram em clínicas e centros de reabilitação, muitas delas em regime de internamento outras em ambulatório durante meses para não falarmos de anos com custos para o Serviço Nacional de Saúde suportados pelo orçamento do estado e este pelo aumento dos nossos impostos.

Estas 5 dimensões (poderão existir outras mediante caos a caso), são no nosso entender pluridisciplinares, afetando a montante a jusante e condicionando todas as partes envolvidas.

Como as organizações estão hoje inseridas num mercado global de interdependência, o facto de uma paragem prolongada até as condições de segurança e saúde estarem devidamente restabelecidas vai lesar, direta ou indiretamente, outras organizações que dependem do output da organização em causa, não podendo também estas cumprirem com os prazos e outras obrigações contratuais, com consequências económico-financeiras que a médio prazo se farão sentir.

Tudo isto está interligado numa teia complexa de interatividades e interdependências num mercado global e competitivo.

Estratégias de prevenção, de sensibilização, de organização do trabalho, de supervisão, de liderança, de planeamento, de cooperação, de aconselhamento, de orientação, entre tantas outras poderão minimizar o que atrás referimos com ganhos para todos nós!…

Técnico Superior de Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho. Docente, formador e consultor em matéria de SST e Gestão de Recursos Humanos e Psicologia do Trabalho. Quadro da Câmara Municipal de Cascais. Membro da Comissão de Trabalhadores da CMC

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