A desinfeção é uma das frentes de batalha contra a COVID-19, mas com o início da pandemia, a necessidade de desinfetar aumentou. Um grande número de empresas, de limpeza, jardinagem, controlo de pragas e até de manutenção de piscinas, estão oferecendo serviços de desinfeção, serviços para os quais não estão qualificados e onde recorrem a produtos incorretos e não eficazes. Não só estão retrocedendo no combate à pandemia, como também estão colocando em risco os seus funcionários e clientes.
O medo e a ignorância estão a originar medidas desesperadas. Há diferenças entre quem faz voluntariamente, e quem têm intenções comerciais. No primeiro caso, Bombeiros e Forças Armadas prestam-se a “desinfetar” gratuitamente. No segundo, a intrusão laboral está sendo cometida em busca de um benefício económico.
Vislumbramos empresas de múltiplos setores, que se proclamam especialistas e fazem alegações perigosas e erradas nos meios de comunicação, inclusive membros das Forças de Segurança. O oportunismo é extremo, até fornecedores de pistolas para pintura, estão estimulando tal comportamento.
“Desde o início da pandemia que as más práticas se repetem constantemente, como a pulverização das ruas, desinfeções a vapor, desinfeção contra o coronavírus com produtos bactericidas e fungicidas, mas não virucidas e os famosos túneis de desinfeção”, garante Pedro Badoni, mestre em CBRN pela Universidade de Roma, numa consultoria técnica de Hazmat Biológico.
“Vejo que utilizam nebulizadores que não são adequados para esse uso, bem como sprays que garantem a desinfeção total ou até a esterilização do ambiente. Empresas que dizem que nebulizam e no vídeo promocional estão pulverizando (não conseguem nem distinguir os tipos de aplicação)”.
A questão é que isso só pode ser realizado por especialistas, que trabalhem numa empresa certificada, com técnicas comprovadamente eficientes e com produtos homologados para esse fim. A falta de conhecimento não está colocando em risco apenas quem aplica o producto, mas também outras pessoas que, por desconhecimento, permanecem nas instalações enquanto o “tratamento” é realizado.
Especialistas em “biohazard”, recomendam a quem trabalha com biocidas, o uso de equipamentos de proteção contra agentes químicos e biológicos, e denunciam que há “profissionais” que estão a aplicar biocidas sem a proteção correta. Nesse sentido, estão expostos ao contágio do SARS-CoV-2 e também à intoxicação química.
Para distinguir uma empresa profissional de uma que não o é, o mais simples é pesquisar na internet, existindo sites de associações internacionais especializadas, onde as empresas associadas cumprem um código deontológico que as posiciona como empresas de referência.
Outra forma fácil de saber se existe a possibilidade de fraude, são aquelas empresas com orçamentos gratuitos, com valores por metro quadrado e sem realizarem uma visita técnica, que prometem efeito residual dos seus produtos, oferecem 2 por 1 ou descontos de fim de semana, com execuções rápidas e pior ainda, não efetuam o processo inicial de limpeza de forma detalhada e exaustiva, aceitando trabalhos em locais onde nunca houve um caso positivo, sem escrúpulos. Procure sempre uma empresa certificada.
A biosegurança é uma especialidade “hazmat” e mesmo para nós, que somos “hazmat”, consultamos especialistas nesta superespecialidade. A vida não tem preço e “Hazmat não é apenas ADR”
Por Luis M. Torrealba Hernández, advogado, director executivo da Hazmat Portugal, capitão (reformado) de Bombeiro na Venezuela, técnico Hazmat e consultor em resposta a incidentes Hazmat