A “prevenção numa era conectada – soluções globais para um trabalho saudável e seguro para todos” é o tema central do XXII World Congress on Safety and Health at Work, que decorre este ano em Toronto, Canadá. A Security Magazine está a acompanhar.
Na abertura, Cameron Mustard, presidente do congresso, destacou que os últimos 18 meses a segurança e saúde no trabalho emergiram como um ponto crítico no mundo.
Como apontou, anualmente, morrem no mundo 2 milhões de pessoas em acidentes de trabalho ou por doenças associadas ao mesmo.
Neste novo mundo e realidade, o trabalho mudou rapidamente, estando também ele mais conectado. O presidente da ILO, Guy Ryder destacou a importância da aposta em sistemas resilientes na protecção de todos, através de acções colectivas, tendo em vista a visão de zero acidentes, doenças e mortes.
De acordo com as “Estimativas conjuntas da OMS e da OIT sobre o ónus de doenças e lesões relacionadas ao trabalho, 2000-2016” (“Joint Estimates of the Work-related Burden of Disease and Injury, 2000-2016: Global Monitoring Report “), a maioria das mortes relacionadas ao trabalho deveu-se a doenças respiratórias e cardiovasculares.
As doenças não transmissíveis foram responsáveis por 81% das mortes. As maiores causas de mortes foram doença pulmonar obstrutiva crónica (450.000 mortes); acidente vascular cerebral (400.000 mortes) e cardiopatia isquémica (350.000 mortes). Lesões ocupacionais causaram 19% das mortes (360.000 mortes).
O estudo tem em consideração 19 factores de risco ocupacional, como exposição a longas jornadas de trabalho e exposição no ambiente de trabalho à poluição do ar, substâncias cancerígenas, riscos ergonómicos e ruído.
O principal risco foi a exposição a longas horas de trabalho, que estava associada a cerca de 750.000 mortes. A exposição no local de trabalho à poluição do ar (partículas, gases e fumos) causou 450.000 mortes.
O relatório alerta que as lesões e doenças relacionadas ao trabalho sobrecarregam sistemas de saúde, reduzem a produtividade e podem ter um impacto catastrófico na renda das famílias.
Globalmente, as mortes relacionadas ao trabalho por população caíram 14% entre 2000 e 2016. Segundo o relatório, isso pode ser resultado de melhorias na saúde e segurança no local de trabalho. No entanto, as mortes por doenças cardíacas e derrames associados à exposição a longas jornadas de trabalho aumentaram 41% e 19%, respectivamente. Isso reflete uma tendência crescente neste fator de risco ocupacional relativamente novo e psicossocial.
O relatório destaca que a carga total de doenças relacionadas ao trabalho provavelmente será muito maior, já que as perdas futuras de saúde causadas por vários outros factores de risco ocupacionais terão que ser quantificadas. Além disso, os efeitos da pandemia da COVID-19 adicionarão outra dimensão a esse fardo que deve ser refletido em estimativas futuras.
Visão Zero
A Comissão Europeia publicou recentemente o quadro estratégico da UE sobre saúde e segurança no trabalho 2021-2027. A estratégia adopta a abordagem Vision Zero para eliminar as mortes relacionadas com o trabalho na União Europeia (UE). Isto demonstra como a Visão Zero, desenvolvida pela Associação Internacional de Segurança Social (ISSA), está a passar de uma campanha para se tornar uma ferramenta estratégica.
Tal como incluído no pilar europeu dos direitos sociais, a segurança e saúde no trabalho (SST) é de alta prioridade para a UE. A pandemia tem demonstrado de forma dramática a importância de garantir a segurança e saúde dos trabalhadores. O novo quadro estratégico também torna a SST um elemento crucial nos esforços da UE para melhor recuperar da crise da COVID-19.
Os números mostram que antes da pandemia a UE tinha conseguido fazer progressos importantes nesta área. As mortes relacionadas com o trabalho foram reduzidas em 70 por cento entre 1994 e 2018.
Ainda assim, em 2018, houve 3,1 milhões de acidentes de trabalho.
A UE está, por conseguinte, a estabelecer novas ambições e para as alcançar adoptará a abordagem Vision Zero.
A nova estratégia da UE tem três objectivos fundamentais:
- Antecipar e gerir a mudança no novo mundo do trabalho
- Melhorar a prevenção de doenças e acidentes relacionados com o trabalho
- Maior preparação para possíveis ameaças sanitárias futuras
Para o conseguir, o ponto-chave das acções será:
- Melhorar a recolha de dados sobre acidentes de trabalho e doenças profissionais
- analisar as causas de raiz de cada morte ou lesão relacionada com o trabalho;
- criação de um grupo de trabalho sobre Visão Zero no âmbito do Comité Consultivo para a Segurança e Saúde no Trabalho (ACSH)
- desenvolvimento de acções e instrumentos de informação direccionados para aumentar a sensibilização;
- reforço da fiscalização, apoiando o Comité de Altos Responsáveis da Inspecção do Trabalho (SLIC), no aumento da sensibilização para a redução das mortes relacionadas com o trabalho a nível da empresa, partilhando boas práticas, e apoiando o aumento da formação para as inspecções do trabalho.
O World Congress on Safety and Health at Work decorre há 65 anos em várias cidades do mundo. Este ano decorre em Toronto, Canadá, entre os dias 20 e 24 de Setembro.