Segurança e saúde no trabalho é preocupação na indústria automóvel nacional

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A par da necessidade de aumentar os níveis de produtividade, os gestores na indústria automóvel nacional relatam frequentemente preocupações em matéria de segurança e saúde no trabalho (SST) como sendo impulsionadoras de investimentos em automação. Esta é uma das conclusões do estudo da OIT, apresentado esta semana, e consultado pela Security Magazine.

Uma “força de trabalho envelhecida é identificada como um elemento crucial por detrás da necessidade de mitigar os esforços físicos
(levantar pesos, fazer movimentos repetitivos)”, refere.

Os trabalhadores partilham em larga medida a opinião de que “o aumento da automatização aliviou a carga de trabalho e impediu o contacto com substâncias tóxicas, melhorando as condições de trabalho em matéria de SST”.

De acordo com o documento, “foi frequentemente mencionada a necessidade urgente de investir na semiautomação da linha de produção em empresas intensivas em mão-de-obra”.

Um delegado sindical de uma grande empresa de electrónica informou que, embora a automatização deva ter em conta os impactos nos níveis de emprego, é crucial proteger os trabalhadores do trabalho manual, repetitivo e monótono e dos riscos de saúde associados.

Um delegado sindical que trabalha na indústria dos cabos relatou graves impactos na saúde dos trabalhadores em virtude de trabalho manual regular e relaciona a falta de automatização na produção com uma relutância dos administradores em investir.

Contudo, o impacto da mudança tecnológica e organizacional em matéria de SST “não é exclusivamente positivo”.

A pressão para não desperdiçar capacidade produtiva “levou à racionalização do processo produtivo, extendendo o tempo de trabalho e os turnos (incluindo noites e fins de semana), intensificando a actividade laboral, acelerando os ritmos de trabalho, e também integrando competências vertical e horizontalmente”.

Um representante sindical com influência numa empresa de montagem
de veículos relatou que a automatização resultou numa carga de trabalho acrescida, movimentos mais repetitivos e uma diversidade de tarefas mais reduzida, o que resultou em mais problemas ergonómicos e numa idade mais precoce.

Nesta empresa, em 2020, 12 por cento dos trabalhadores reportaram doenças profissionais de gravidade variada, sendo que nem todas conduziram a períodos de baixa médica.

Noutro OEM (mais intensivo em mão-de-obra, a explorar um nicho
de mercado), o gestor de produção mencionou que 10–15 por cento dos postos de trabalho exigiam alterações para dar resposta às queixas dos trabalhadores em matéria de saúde.

Além disso, os representantes dos trabalhadores de dois outros fornecedores com produção mão-de-obra intensiva mencionaram 11 por cento e 13 por cento dos trabalhadores com doenças profissionais (principalmente tendinites). Reportaram problemas com o reconhecimento da doença como sendo profissional nos casos de tendinites preexistentes (que calcificaram) ou quando se tratam de doenças mais invulgares (por exemplo, hérnias discais) que não são consideradas doenças profissionais no sector.


Outro representante sindical mencionou que, embora os problemas músculoesqueléticos sejam a principal doença profissional que têm observado, nas últimas décadas tem havido um surto de problemas de saúde mental devido ao isolamento – um aspecto intensificado pela pandemia – e ao esgotamento mental devido à alta intensidade e rigidez impostas pela automatização.

As preocupações dos trabalhadores com os baixos salários e a incapacidade de fazer face às despesas foram também relatadas como uma fonte de stress, especialmente entre os trabalhadores pouco qualificados e os que têm contratos a prazo.


Os gestores tanto dos OEM como dos fornecedores de componentes reconhecem o problema que constituem as doenças profissionais. Vários gestores referem-se a projectos recentes que visam desenvolver soluções para adaptar os movimentos físicos dos trabalhadores, reduzir movimentos repetitivos problemáticos ou melhorar a ergonomia.

Uma abordagem comum consiste em avaliar ergonomicamente os postos de trabalho, classificando-os de acordo com a gravidade (verde, amarelo, vermelho), e reduzir o número de postos de trabalho vermelhos. No entanto, esta é uma abordagem gradual que leva tempo a implementar.

Por exemplo, gestores e trabalhadores de um fornecedor têxtil onde a disposição da linha de produção foi alterada, e os postos de trabalho redesenhados para que o trabalho pudesse ser realizado de pé, reportaram um número significativa menor de lesões nas costas.

Outros entrevistados referem-se a programas de ginástica laboral, pausas regulares e rotação de postos de trabalho como boas práticas, enquanto um representante sindical de uma empresa diferente refere a dificuldade de convencer a direção a aderir a estas pausas no local de trabalho.

Outro delegado sindical (num OEM de produção em grande escala) explicou a dificuldade de reintegrar trabalhadores porque a automatização é frequentemente orientada para postos de trabalho de trabalhadores pouco qualificados e, subsequentemente, requer tarefas cognitivamente mais complexas (por exemplo, monitorização de conteúdos, processos digitalizados).

Os representantes dos trabalhadores reconhecem que os trabalhadores nem sempre seguem os requisitos de segurança em termos de equipamento ou procedimentos ergonómicos para prevenir doenças músculoesqueléticas.

Um representante salientou que, apesar da política interna de rotação dos postos de trabalho, alguns trabalhadores subestimam questões ergonómicas, recusam-se a fazer a rotação ou não comunicam precocemente problemas à comissão de saúde a fim de conceberem um plano de trabalho para o seu posto de trabalho.


A SST continua a ser uma das questões mais controversas nas empresas. As questões de SST “têm sido gradualmente incluídas em quadros de negociação coletiva a nível setorial por iniciativa sindical, mas continuam a existir lacunas no quadro regulamentar”.

A realidade é condicionada por risco moral ao nível da empresa, uma vez que “nem todos os empregadores implementam de boa-fé as medidas de SST acordadas, pela falta de sensibilização dos médicos assistentes nos centros de saúde e pela falta de coordenação entre os serviços públicos”.

Os dirigentes destacam todo o investimento dedicado à SST e o envolvimento dos trabalhadores e dos seus representantes através de comissões de SST.

Uma vez que a legislação laboral obriga os empregadores a garantir postos de trabalho equivalentes em caso de acidente ou doença profissional, há um incentivo para limitar os números das doenças profissionais.

Representantes dos trabalhadores relatam dificuldades em provar que a sua doença é profissional, e muito poucos trabalhadores veem a sua doença reconhecida como tal (o que lhes daria acesso ao subsídio de doença, pago a 100 por cento).

Nos centros de saúde públicos, diz o estudo, “os médicos assistentes desconhecem os requisitos para reconhecer oficialmente uma doença profissional, um processo moroso que por vezes só é resolvido com o envolvimento de sindicatos e médicos privados”.


Por último, alguns trabalhadores afevtados não podem regressar aos seus postos de trabalho, uma vez que correm o risco de uma maior deterioração do seu estado de saúde.

Face ao aumento dos números, uma empresa pode ter dificuldade em criar
posições internas alternativas.

Como mencionado por um gestor de uma empresa de montagem de veículos, as doenças profissionais podem exigir a adaptação de 10 a 15 por cento dos postos de trabalho, o que coloca sérios desafios à gestão dos
processos de trabalho.

Por vezes, o centro de formação do IEFP tem estado envolvido na requalificação dos trabalhadores.

No entanto, apesar da formação, as empresas nem sempre conseguem encontrar posições adequadas, mas continuam a ser responsáveis pelo pagamento de salários.

Do ponto de vista da empresa, a situação ideal seria que o trabalhador encontrasse um emprego fora da empresa, compatível com as suas limitações.

No entanto, do ponto de vista do trabalhador, isto não deve implicar uma perda de salário e de direitos de protecção social.

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