Por que “Hazmat” não é apenas ADR?

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Por Luis M. Torrealba Hernández, advogado, director executivo da Hazmat Portugal, capitão (reformado) de Bombeiro na Venezuela, técnico Hazmat e consultor em resposta a incidentes Hazmat

Poucos bombeiros professam o amor por “Hazmat”. Dizem que não tem lugar no serviço, falam que “bombeiros de verdade lutam apenas com o dragão do fogo”, e podemos ouvir dizer, nos corredores do quartel, que as matérias perigosas são o filho bastardo do serviço.

No entanto, verdade seja dita, as matérias perigosas estão presentes em quase todas as chamadas de socorro que atendemos neste negócio das emergências, sejam chamadas com a presença evidente de materiais perigosos ou não.

Quando nos debruçamos sobre as guias utilizadas para a resposta em matérias perigosas, descobrimos que muitos operacionais se limitavam ao uso da Guia de Resposta a Emergências (GRE) e ao “European Agreement Concerning the International Carriage of Dangerous Goods by Road“, mais conhecido como ADR, criados para emergências com mercadorias perigosas por estrada, depois evoluindo para emergências em gasodutos, mas ignorando que existem emergências em instalações fixas, indústrias, comércios, hospitais, escolas e residências.

“Hazmat” (hazardous material), em português, materiais perigosos e não mercadorias perigosas (dangerous goods) – este último termo geralmente confunde-se e remete-nos ao ADR apenas porque a ideia de “mercadoria” é o que está a ser comercializado e, portanto, transportado, mas essa ideia limita-nos e leva-nos a usar apenas aquela guia, ignorando, desta forma, que esta não desenvolve aspectos técnicos ou especializados na resposta, porque foi projetada para a resposta inicial e não para a resposta técnica ou especializada, a um nível que é apenas o primeiro em “hazmat”.

A primeira pessoa no local de um incidente com matérias perigosas geralmente é o motorista, um polícia, GNR, segurança da empresa, uma secretária, um vizinho, um técnico do INEM, ou uma equipa de bombeiros chamada para uma explosão numa fábrica. São considerados a “primeira resposta”. Uma equipa de matérias perigosas raramente será quem vai a dar a resposta inicial.

Na realidade, aqui estão alguns incidentes, nos quais temos “Hazmat” como pano de fundo, além do transporte regulamentado para materiais perigosos:

Acidentes com veículos: líquidos e gases inflamáveis, metais combustíveis, explosivos nos airbags, riscos elétricos, cargas ocultas e cargas transportadas legalmente.
Queixas de odor: vapores e gases tóxicos ou inflamáveis, riscos respiratórios, riscos não detectados e efeitos na saúde de exposições.
Alarmes de incêndio: fonte de alarme, materiais industriais, riscos no ar, magnéticos, de ionização, de alta pressão, pirofóricos, de audição, riscos de quente e frio.
Incêndios de estrutura: fumos e vapores tóxicos e subprodutos do fogo.
Resposta pré-hospitalar: vírus, bactérias, fungos, microrganismos e patógenos transmissíveis.

“Hazmat” não se limita exclusivamente a GRE. Logo, devemos estar alerta para acidentes ou incidentes com materiais perigosos que ocorrem em locais que não sejam estradas ou ruas.

Existe muita literatura técnica e científica que devemos consultar ao fornecer uma resposta técnica além da “primeira resposta”, por exemplo, a “NIOSH Pocket Guide to Chemical Hazards” e outras, que são ferramentas muito técnicas que requer treinamento prévio somente para uso e interpretação, não fornecido no curso básico de resposta a materiais
perigosos nível “conscientização”.

Por esse motivo, e devido à ocorrência frequente de incidentes com materiais perigosos, além daqueles envolvidos no transporte, podemos garantir que:
“Hazmat” não é apenas ADR.

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