Associações escrevem ao Governo sobre proposta da UE que “compromete sigilo e encriptação das comunicações”

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11 organizações da sociedade civil escreveram uma carta ao Governo, acerca de uma proposta de regulamento da União Europeia que, segundo dizem, “compromete o sigilo e encriptação das comunicações dos cidadãos europeus”. As 11 organizações pedem que o Governo divulgue a posição que Portugal tem defendido na UE., e que rejeite medidas que não respeitem os direitos fundamentais dos cidadãos.

“Na qualidade de representantes da sociedade civil, vimos por este meio expressar as nossas grandes preocupações e questionar a posição nacional em relação à discussão em curso no contexto do regulamento europeu que visa estabelecer regras para prevenir e combater o abuso sexual de crianças, conhecido como CSAR”, diz o documento.

As associações recordam que “os serviços jurídicos do Conselho de Ministros da União Europeia, que aconselham os governos dos Estados-Membros, publicaram uma análise arrasadora desta proposta de lei, afirmando que as medidas que estão em cima da mesa implicam um risco grave que “compromete a essência dos direitos à privacidade e à protecção de dados” por permitir “o acesso geral e indiscriminado aos conteúdos das comunicações pessoais” por parte das empresas”.

Como sublinham, “peritos independentes, que aconselham o Parlamento Europeu chegaram à mesma conclusão, acrescentando que “esta interferência [com os direitos humanos]… não é justificável””.
Os reguladores europeus de protecção de dados fizeram saber que “é improvável que esta lei proteja as crianças, mas que terá sérias consequências negativas em praticamente todas as pessoas que usam a Internet”.

Ao comprometer a utilização de criptografia extremo-a-extremo, a proposta de Regulamento da UE, dizem, “expõe a vida privada de todas as pessoas na Europa”. Vários peritos em Portugal já alertaram no passado que “não é possível ter comunicações seguras e encriptadas para umas pessoas e não para outras, sem colocar em risco todas as comunicações”.

O próprio Conselho “reconhece que esta opção é extremamente perigosa colocando-se acima dos cidadãos ao adicionar nas últimas versões do texto um ponto onde exclui do regulamento as comunicações internas dos Estados, por motivos de segurança da informação”.

Os subscritores chamam a atenção que, na sua versão actual, “a proposta não só coloca em risco pessoas com profissões críticas, como médicos, jornalistas, advogados, entre outros, como diminui a segurança das comunicações das próprias potenciais vítimas que pretende proteger”. Crianças e jovens utilizam as mesmas plataformas de comunicação encriptada para interagirem entre si, enquanto pais, professores, médicos, e outros profissionais usam as mesmas plataformas para se comunicarem com eles.
“Uma proposta que diminui a segurança de todas as pessoas, inclusivamente das pessoas que pretende proteger, não pode ser solução”.

Portugal “tem aqui um dever e uma oportunidade para defender os direitos fundamentais. É importante que o nosso país recuse concordar com este regulamento, sem que se garanta a protecção da encriptação das comunicações e se impeça uma vigilância generalista e indiscriminada”.

Neste contexto, para além de pedir que Portugal defenda os direitos fundamentais de todos, os subscritores questionam a posição que irá ser tomada pelas entidades nacionais nesta matéria e se estas questões têm sido levadas em conta.

Com os nossos melhores cumprimentos,

Lista de Signatários:
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Associação Portuguesa para a Promoção da Segurança da Informação (AP2SI)
Associação dos Profissionais de Proteção e de Segurança de Dados (APDPO)
Defend our Privacy Association (PrivacyLx)
ESOP – Associação de Empresas de Software Open Source Portuguesas
Internet Society – Portugal Chapter (ISOC)
VOST Portugal – Associação de Voluntários Digitais em Situações de Emergência
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