“Temos operações em Portugal de maior importância para a Cisco Global”

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Com o terceiro maior escritório da Europa localizado em Oeiras, a Cisco conta com quase 1000 colaboradores em Portugal. Ao longo de quase três décadas, a empresa investiu continuamente na criação de empregos de valor acrescentado e dinamização da inovação no país. Com uma forte aposta na Cibersegurança, a CISCO acaba de finalizar a aquisição da Splunk, a sua maior aquisição de sempre, a qual vem reforçar a aposta nesta área. Em Portugal, lançou, em Setembro, a Academia de Cibersegurança, uma aposta ganha que já formou 15 jovens nas mais diferentes tecnologias em cibersegurança. Miguel Almeida, General Manager da Cisco Portugal, e Nádia Jamal, CyberSecurity Specialist e Cisco Portugal CyberAcademy Lead, falam sobre o percurso da empresa e as apostas recentes na área de cibersegurança.

A CISCO foi uma das primeiras empresas globais de TI a investir em Portugal. Como tudo aconteceu e que aspetos destacaria neste percurso?
Miguel Almeida
– A Cisco começou a seu trajecto em Portugal em 1995 com a abertura do seu escritório de vendas tendo como principal objectivo garantir aos seus clientes um acompanhamento mais próximo e também contribuir para a Inovação junto dos mesmos e em Portugal.
Foi um percurso de grande sucesso, o que dinamizou a Cisco a fazer dois grandes investimentos no nosso país, tendo sido o primeiro com o projecto Hercules em 2007 e, mais recentemente, com a abertura de um CX Center em Portugal.
Estes dois investimentos permitiram colocar Portugal como um dos polos de investimento da Cisco, levando a criação de empregos de valor acrescentado e à dinamização da inovação no nosso país.

Qual a importância da subsidiária portuguesa para a CISCO?
Portugal é um país relevante para a Cisco, sendo hoje o terceiro maior escritório da Europa no que se refere a número de pessoas. Temos operações em Portugal de maior importância para a Cisco Global em áreas como vendas, operações, engenharia, desenvolvimento de produto e customer experience.

Qual a realidade actual da empresa em Portugal, em termos de escritórios e número de colaboradores e oferta?
O nosso único escritório em Portugal está localizado em Oeiras, no Lagoas Park, mas operamos com uma política de trabalho híbrido, o que permite total flexibilidade dos nossos colaboradores.
Contamos com aproximadamente 1000 colaboradores, dos quais 54% são homens e 46% mulheres. Do ponto de vista de oferta em Portugal, temos disponível 100% do portfolio Cisco, seja na área de redes, cloud, colaboração, IoT, observabilidade ou segurança.

Que estratégias têm sido adoptadas pela CISCO para atrair e reter novos talentos?
O crescimento do escritório em Portugal, tem levantado desafios na área do atrair e reter talentos. Este facto não está unicamente subjacente à Cisco. É uma realidade do mercado e não apenas no nosso país. Deste modo, tentamos encontrar a melhor forma de motivar os nossos empregados a manterem- se na Cisco com diversas políticas de recursos humanos que melhor se possam adaptar as nossas pessoas e mercado.
Não escondo que temos alguma dificuldade em encontrar em Portugal todos os recursos que desejamos e, desta forma, também tentamos motivar pessoas com as características que necessitamos a virem para Portugal. Neste campo, alargámos o recrutamento a outros de países de forma a conseguirmos atingir as nossas necessidades. Uma métrica interessante de partilhar é que temos no escritório de Lisboa 60 nacionalidades e suportamos oficialmente cinco línguas. Acreditamos que estamos no caminho correcto nesta área, pois temos sido agraciados como a melhor empresa para trabalhar em Portugal nos últimos quatro anos pelo Great Place to Work.

Em que medida a segurança se assume como uma prioridade para a CISCO?
A cibersegurança é uma das principais apostas estratégicas para a Cisco e nesse sentido uma prioridade de topo. A Cisco continua a investir em inovação nesta área de rápido crescimento e a expandir a oferta as a service no contexto actual zero trust. Recentemente, a Cisco lançou a Cisco Security Cloud, uma plataforma de segurança baseada em cloud que permite unificar a gestão das soluções de segurança, disponibilizando as mais diferentes funções de segurança num modelo as a service.
Mas não paramos por aqui. A Cisco acaba de finalizar a aquisição da Splunk, a nossa maior aquisição de sempre, que vem reforçar o nosso portfolio na área da cibersegurança e observabilidade e continuaremos a investir em áreas como Inteligência Artificial (IA) e sustentabilidade.

A Academia de Cibersegurança foi lançada em Setembro do ano passado. Como avalia este investimento?
Nádia Jamal – Foi sem dúvida um investimento muito positivo e uma experiência extremamente gratificante. Tivemos a oportunidade de formar 15 jovens nas mais diferentes tecnologias de cibersegurança e interligar estes jovens aos nossos clientes e parceiros, dando uma componente prática à academia. O currículo da nossa Cyber Academy destaca-se pela componente de certificações técnicas, como CyberOps Associate, CCNA, CCNP – Firewall ou Certified Hacker, mas não esquecemos o desenvolvimento de Sokfsills, cada vez mais relevantes actualmente no mercado de trabalho. Estes jovens irão contribuir para reforçar o talento nacional na área da cibersegurança e aumentar em geral a consciência dos perigos da internet nas comunidades onde se inserem.
Um outro factor importante desta academia foi o investimento conjunto com os nossos parceiros que aceitaram o nosso desafio e decidiram juntar-se a este projecto. Todos os alunos da academia encontram-se já colocados no mercado de trabalho e acreditamos que este é, sem dúvida, um forte indicador do sucesso desta iniciativa.

Além da aposta na Academia, em matéria de cibersegurança, qual o investimento que a CISCO tem feito a nível nacional?
A Cisco tem investido nesta matéria, sendo hoje um fabricante importantíssimo e de referência para os seus clientes.
Temos trabalhado junto destes mesmos de forma a ajudá-los a responder as suas necessidades e preocupações, mas também com os nossos parceiros para dar-lhes uma maior capacidade e know how de forma a podermos todos tornar Portugal um país de referência em matérias de cibersegurança. Adicionalmente, através do nosso programa de Network Academies em parceria com instituições nacionais, damos formação nesta matéria, formação essa englobando diversos níveis de conhecimento.
Acreditamos que o awareness nesta matéria é muito importante, pois as pessoas desempenham um factor crítico nas políticas e processos de cibersegurança.

A cibersegurança está na ordem do dia. Quais os três aspectos que a preocupam na indústria da cibersegurança e o que pode ser feito para responder a essas preocupações?
Sem dúvida que a área da cibersegurança é extremamente dinâmica onde as ameaças estão em constante evolução e são cada vez mais sofisticadas, eu destacaria os seguintes temas:

1) Educação e Consciencialização – Todos estamos cada vez mais expostos à internet, e como tal, expostos ao cibercrime e perigos da internet. Assim, a criação de iniciativas para sensibilizar toda a população, da mais jovem à mais sénior, é essencial para a construção de consciência colectiva para a adopção de hábitos simples, mas essenciais no nosso dia a dia. Alguns exemplos são, a gestão de passwords, através de um simples password manager e utilização de mecanismos de autenticação multifactor; a actualização contínua dos sistemas operativos, browsers e aplicações e uma maior conscienlização dos conteúdos partilhamos nas redes sociais.

2) Aumento de ciberataques a infra-estruturas críticas – estes visam causar a disrupção de serviços ao nível do estado. Refiro-me, por exemplo a ataques a redes de comunicação, hospitais ou redes eléctricas e têm muitas vezes motivações geopolíticas. Com o aumento dos conflitos mundiais, estes ataques têm vindo a aumentar. Para mitigar este risco, todas as empresas operando directa ou indirectamente (e.g. fornecedores) devem estar equipadas com tecnologias de cibersegurança actualizadas e manter um budget anual para investimento na área.

3) Ciber-resiliência das empresas – a escassez de profissionais qualificados e proliferação do número de ferramentas de cibersegurança que não falam entre si, resulta muitas vezes no burnout dos profissionais, dando oportunidade ao erro humano e criando espaços que os atacantes exploram para levar a cabo os ciberataques.
É importante investir na qualificação/requalificação de mais profissionais para área da cibersegurança e dotá-los de ferramentas que sejam interoperáveis entre si.
Estas ferramentas ou soluções devem permitir correlacionar os eventos que surgem de diferentes fontes – como por exemplo rede, endpoint e cloud – permitindo que a detecção, resposta, investigação e mitigação dos ciberataques seja efectuado no menor tempo possível.
Uma das tecnologias que promete ajudar neste ponto é a incorporação da inteligência artificial (IA) nas soluções tecnológicas que visa ajudar os profissionais de segurança na tomada de decisões e aliviar o peso de tarefas repetitivas.