“No sector continuamos a assistir à prática de concorrência desleal”

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A Securitas iniciou a sua actividade em Portugal em 1966, contanto actualmente com 4789 colaboradores, um volume de facturação de 109 milhões de euros e um total de oito escritórios no país. A empresa foca a sua actuação nas soluções integradas de segurança, nomeadamente, vigilância humana, mobile, remota, segurança electrónica, protecção contra incêndios e gestão de risco. Rui Araújo, country president da Securitas Portugal destaca à SECURITY MAGAZINE que o sector enfrenta, entre outros, desafios relacionados com concorrência desleal, falta de mão-de-obra e com o papel das entidades fiscalizadoras na aplicação das diferentes normas que regulam a actividade. Em 2024, a empresa mantém o foco na transformação digital, assumindo-se como um parceiro de negócios.

SECURITY MAGAZINE – Na sua perspectiva, observando a dinâmica desta actividade nos últimos anos, quais os principais desafios que enfrenta actualmente o sector da segurança privada em Portugal?
Rui Araújo – Um dos maiores desafios que se coloca está em conseguir que as entidades fiscalizadoras tenham, efectivamente, um papel interventivo na aplicação das diferentes normas que regulam a actividade e no cruzamento destas com as que regulam as actividades económicas.
No sector continuamos a assistir à prática de concorrência desleal que favorece um vasto conjunto de empresas, e em que um dos maiores fomentadores deste problema é a contratação pública, que vale cerca de 30% do mercado da segurança. Prática sistemática que contagia o sector privado levando à degradação dos preços e do valor do sector.
Um outro desafio, tem a ver com a falta de mão de obra, que se vem agravando. Não sendo exclusivo do sector, dadas as regras de ingresso na actividade para trabalhadores estrangeiros, ainda que fazendo sentido, têm um impacto acrescido.

Como olha para o futuro da segurança privada em Portugal em termos de crescimento, regulamentação e contratação pública?
Se analisarmos os dados disponíveis relativos aos últimos anos, o crescimento do sector está apenas ligeiramente acima do crescimento das actualizações salariais, o que indica o fraco crescimento de novos serviços na área da vigilância humana. Assiste-se, sim, a um acentuado crescimento na área da tecnologia, o que não é de estranhar face às evoluções e sofisticações tecnológicas e à falta de mão de obra, entre outros factores.
A actividade da segurança privada em Portugal tem uma excelente regulação. Há sempre espaço para melhorar, mas a questão não está em melhorar, mas sim, na fiscalização do cumprimento do que já existe. A falta de acções inspectivas conjuntas, envolvendo as autoridades competentes, como a ACT, AT e a PSP, adensa ainda mais os problemas que o sector enfrenta.
Quanto à administração pública, esta tem a obrigação de garantir a aquisição de serviços, de acordo com os princípios da legalidade, da transparência, da eficiência e da qualidade. No entanto, a aquisição de serviços de segurança enfrenta vários problemas que comprometem esses objectivos.
Um dos problemas mais frequentes na aquisição de serviços de segurança pela administração pública é a compra de horas de serviço, sem definir claramente, os objectivos, indicadores e resultados esperados. Esta prática leva a uma gestão ineficiente dos recursos, pois não permite avaliar a adequação, a qualidade e a eficácia do serviço prestado.
Outro problema é a escolha do preço mais baixo como critério principal. Esta prática contraria o princípio da eficiência, pois o preço mais baixo não é sinónimo do melhor serviço. Este critério promove a participação em concursos com valores que indiciam dumping social, ou seja, oferta de preços abaixo do custo do trabalho, à custa da exploração dos trabalhadores e da violação das normas legais e laborais, desvalorizando o sector da segurança, pois desincentiva a inovação, a formação, a qualificação e a especialização.
Para mitigar alguns dos problemas, as entidades públicas deveriam adoptar uma abordagem baseada em soluções eficientes, que considerem a melhor relação custo-benefício. Isto implica definir previamente as necessidades, objectivos, indicadores e resultados esperados, e estabelecer critérios de avaliação que incluam a qualidade, adequação, eficácia e satisfação do serviço, o que também implica monitorizar e fiscalizar o cumprimento do contrato, – e aplicar sanções em caso de incumprimento.
A alteração de abordagem permitiria também a valorização do sector da segurança privada, reconhecendo a sua importância e contributo para com a sociedade.

Por onde passa o crescimento da vossa organização em 2024?
Em 2024, continuamos alinhados com aquela que é a estratégia do Grupo Securitas, no crescimento das soluções de segurança de forma sustentável.
Temos em curso diversos projectos de transformação digital que nos possibilitam ser cada vez mais focados nas pessoas, centrados nos clientes e orientados por dados. Assumimo-nos como um parceiro de negócio, com alcance global e capacidade para continuar a evoluir e a inovar, em conjunto com os nossos clientes, numa lógica colaborativa.
Temos, igualmente, uma estratégia de sustentabilidade perfeitamente definida alicerçada em seis pilares: conduta ética, diversidade, saúde e segurança do trabalho, desenvolvimento dos nossos colaboradores, envolvimento com a comunidade e ambiente.
Aludindo, a este último pilar, no final de 2023, tornámo-nos a primeira empresa de segurança privada global, a ter as suas metas climáticas validadas pela Science Based Targets Initiative (SBTi). Isto significa que nos comprometemos a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa nos Scopes 1, 2 e 3, em 42%, até 2030, tendo 2022 como referência, em linha com o nosso propósito de ajudar a tornar o mundo um lugar mais seguro.