Mitrex 2018 com balanço positivo

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Um descarrilamento ferroviário, seguido de derrame e dispersão de uma nuvem tóxica, concretamente amoníaco, foi o cenário simulado no Mitrex 2018. O exercício decorreu em Setúbal e contou com o envolvimento de cerca de 6.000 pessoas. O Mitrex testou a capacidade interoperacional de resposta a uma situação de emergência.

A ocorrência, de elevado grau de complexidade, e com situações de crise injetadas durante o simulacro inspiradas no recente furacão “Leslie”, exigiu diferentes momentos de intervenção nas operações de protecção e socorro, sobretudo em termos de gestão.

No terreno, com cerca de meia centena de bombeiros em acção (37 dos quais especialistas em produtos químicos) , as atenções estiveram centradas no descarrilamento ferroviário, de origem desconhecida, de um vagão cisterna, seguido de derrame e dispersão de uma nuvem de vapor de amoníaco que afetou tanto a zona industrial como a área habitacional.

Carlos Rabaçal, vereador da protecção civil da Câmara Municipal de Setúbal, adiantou à Security Magazine que o Mitrex “permite testar todas as forças, meios e recursos, testar o planeamento feito, o plano de emergência de cada empresa e o plano municipal de emergência, bem como a capacidade de resposta dos vários parceiros da comissão municipal de protecção civil e a capacidade de montagem de um sistema de comando”. O responsável adiantou que estiveram envolvidas sete viaturas, 300 pessoas envolvidas e 37 bombeiros especialistas em produtos químicos, “os únicos que existem a Sul do Tejo e que têm de resolver riscos com produtos químicos desde Almada até Vila Real de Santo António”. O simulacro foi acompanhado por avaliadores externos e observadores.

Em cenário de jogo, Carlos Marques, subchefe principal da Companhia de Bombeiros de Setúbal, avançou que foram registadas 30 vítimas mortais e 24 crianças estariam em observação. Quanto aos feridos, Carlos Marques explicou tratarem-se de vítimas com intóxicações devido à inalação de gás, irritações nos olhos devido à corrosividade do produto e problemas respiratórios devido à toxicidade do produto. Como sublinhou, a prioridade dos bombeiros passou por conter a nuvem tóxica e impedir a sua progressão, processo assegurado através de uma cortina de águal.

Para este simulacro, as entidades envolvidas contaram com o apoio do professor Herculano Caetano que desenvolveu um simulador de gestão operacional para acidentes de grande complexidade. Este simulador foi testado pela primeira vez a nível nacional, numa parceria entre a Câmara de Setúbal e o Instituto Marie Curie, de Paris. Este simulador está agora ao serviço da autarquia.

“Foi um teste conduzido até ao limite das capacidades, com muitos desafios”, salientou o comandante da Companhia de Bombeiros Sapadores de Setúbal, Paulo Lamego, sobre o Mitrex 2018, exercício enquadrado na necessidade de revisão do Plano Municipal de Emergência de Proteção Civil de Setúbal.

O simulacro, com o envolvimento dos cerca de 5.000 trabalhadores que laboram na península industrial da Mitrena, contou com a participação de mais de 600 alunos do secundário, que actuaram como figurantes em operações no terreno, em cenários de retirada para pontos seguros e também para tratamento no Hospital de S. Bernardo.

Entre inúmeras situações simuladas, de evacuações em massa a ações em focos de incêndio e estruturas colapsadas, destaca-se a atuação do Grupo de Intervenção em Matérias Perigosas da Companhia de Bombeiros Sapadores de Setúbal, a única em prontidão a sul do rio Tejo.

Esta equipa, responsável pela contenção da fuga de amoníaco no vagão cisterna, interveio mais em formato de “demonstração de capacidades”, até porque, frisou o responsável pelo comando operacional das operações em território abrangido pelo Plano Municipal de Emergência de Proteção Civil de Setúbal, está “em treino constante”.

Paulo Lamego destacou a importância do exercício para a identificação de eventuais lacunas no dispositivo estabelecido. “Houve coisas que correram menos bem e, por isso, o simulacro foi um sucesso, porque nos permite melhorar e estar mais preparados para qualquer situação.”

Sobre o acidente industrial simulado, o comandante dos Sapadores acrescenta que este pode vir a ser um risco real. “Esta é uma situação que não sai de nenhum imaginário. Pode um dia vir a acontecer e temos de estar preparados e capacitados para dar a melhor resposta possível.”

Paulo Lamego frisou ainda que o exercício teve como finalidade testar a ativação da Comissão Municipal de Proteção Civil, de forma a integrar os membros do grupo Mitrena nos processos de apoio à tomada de decisão, treinar processos conjuntos e ensaiar o empenhamento simultâneo de equipas operacionais.

Nessa matéria, destacou, o exercício proporcionou “um momento de teste e de trabalho de importância fulcral entre os vários intervenientes na comissão, sobretudo na resposta da gestão da emergência, nas quais foi necessário, entre outras, estabelecer prioridades de intervenção”.

 

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