COPS: “O vigilante não pode ser um mero número “

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Com 14 anos de actividade, a COPS, liderada por Miguel Ferreira, detém os alvarás do tipo A, B e C, prestando serviços ao nível da segurança humana, protecção pessoal, centrais e segurança electrónica. A empresa tem sede no Algarve, filiais em Lisboa, Porto e Fundão, contando com um activo de cerca de 1800 vigilantes que desempenham funções a nível nacional a empresas de vários sectores de actividade. Entre os seus principais clientes está o sector público, nomeadamente o Ministério da Justiça, a Infraestruturas de Portugal e 14 hospitais. Em 2021, a COPS registou uma facturação de 36 milhões de euros, superando os objectivos traçados pela sua administração. A Security Magazine esteve à conversa com Manuel Sacramento, gestor de clientes, e Pedro Toste, director-geral, no âmbito dos “Prémios de Segurança da Security Magazine”, iniciativa que a COPS venceu na categoria de “Segurança no Trabalho”. Num ano que classificam como de “consolidação”, os responsáveis da COPS destacam a importância do vigilante, a aposta na área da formação de vigilantes, o investimento em viaturas eléctricas e a possibilidade de abertura de uma nova filial nos Açores. Manuel Sacramento destaca também os graves problemas vividos no sector e sublinha que “urge a criação de iniciativas governamentais que terminem com esta política de más práticas a troco de serviços mais baratos”.

Security Magazine – A COPS venceu a categoria “Segurança no Trabalho” da primeira edição dos Prémios de Segurança da Security Magazine. Qual a importância deste tipo de iniciativas para a COPS e para o sector?

Manuel Sacramento – Este tipo de iniciativas não existia no sector e é de extrema importância para que as empresas revejam e desenvolvam o seu projecto de melhoria continua como forma de conquistarem estes prémios.  São inclusivamente factores motivacionais para as equipas de trabalho, que as levarão a melhorar os objetivos propostos.

Felicito a Security Magazine por esta iniciativa no sector da segurança, que levará certamente muitas das empresas deste sector a lutarem durante o próximo ano por um prémio da vossa prestigiada revista. É bastante motivador e compensador para o esforço desenvolvido pelas diversas equipas de trabalho ao longo do ano.

Filial em Lisboa

Falando da COPS e do que tem sido a sua trajectória, como analisa estes quase 14 anos de actividade?

A COPS iniciou a sua actividade em 2008 e manteve-se sempre com a mesma estrutura organizacional. No final de 2018, o nosso administrador, Miguel Ferreira, teve a iniciativa de lançar um projecto de reestruturação organizacional e estrutural da empresa, integrando novas pessoas, nomeadamente o Pedro Toste, uma pessoa com vasto conhecimento e experiência neste sector de actividade e em toda a sua operacionalidade.

Este projecto levou à criação de uma nova estrutura, na qual foram inseridos novos profissionais, diferentes formas de trabalhar e de abordar o vigilante e o cliente, bem como o desenvolvimento do departamento comercial e uma área de gestão de clientes (sob minha responsabilidade).

No fundo, com essa reestruturação diria que houve uma abertura ao mercado e daquilo que é a sua actividade?

A comunicação é um factor primordial na boa gestão de qualquer empresa. O cliente e os colaboradores devem ter conhecimento da empresa com quem trabalham, dos seus projectos de desenvolvimento, o seu crescimento e objectivos futuros.  É imprescindível a criação de uma simbiose entre empresa, colaborador e cliente.

Tem de existir, sempre que necessário, uma resposta atempada às solicitações do cliente e uma relação de proximidade entre ambas as partes.

Neste projecto foi sempre tido em consideração o factor comunicacional entre colaboradores e clientes.

O vigilante é a imagem da empresa junto dos nossos clientes, daí a COPS considerar os seus colaboradores como o seu principal activo.  O vigilante não pode ser um mero número, ou seja, tem de ser ouvido e, acima de tudo, respeitado. Esta linha de pensamento é um dos princípios básicos do projecto de reestruturação desenvolvido e lançado por Miguel Ferreira.  

Quando entrei para a COPS, em meados de Agosto de 2019, a empresa tinha cerca de 600 vigilantes no seu activo e hoje são aproximadamente 1800. Um aumento que se deve a um crescimento sustentado e organizado.

Há outro factor que consideramos de extrema importância no crescimento verificado. As empresas necessitam de uma base estrutural que as suporte a nível organizacional e, por isso, optámos pela certificação em Qualidade pela norma ISO/9001 e Ambiente pela norma ISO/14001.

Desenvolvemos também outras certificações que consideramos bastante importantes, nomeadamente a da Deco Proteste, feita pela Bureau Veritas. Sendo a COPS a primeira empresa do sector a nível nacional a ser aconselhada por uma entidade com a idoneidade da Deco Proteste. Seja nos serviços em condomínios e resorts, o que é de extrema importância, como também ser uma empresa recomendada. Estamos, neste momento, a desenvolver outras certificações que julgamos importantes.

Fazendo uma radiografia daquilo que é a COPS, qual a vossa oferta em termos de serviços, volume de facturação e presença?

A COPS tem os alvarás tipo A (segurança humana), B (protecção pessoal) e C (centrais e segurança electrónica). Três áreas de actuação que nos permitem ter uma oferta bastante abrangente, nomeadamente, concorrer a determinados concursos públicos sem ter de recorrer a parcerias com outras empresas.

A COPS passou de uma facturação de 3 milhões de euros em 2018 para 36 milhões de euros no final de 2021, o que indica um crescimento bastante acentuado. Não houve nenhuma outra empresa no sector com este dinamismo.

Para nós é de extrema importância a satisfação do cliente. Tivemos uma média no inquérito de satisfação do cliente bastante elevada com valores acima dos 80%, o que consideramos bastante bom. Tivemos também médias de satisfação dos colaboradores, apuradas em finais de 2021, de 84%. 

Na primeira avaliação das empresas do sector, lançada a um universo de aproximadamente 18.000 vigilantes, no ano de 2016/2017, a COPS ficou avaliada em 16º lugar como empresa recomendada para trabalhar. Na avaliação feita em 2021 e 2022 pelo grupo “Vigilantes e Seguranças de Portugal” com um universo acima dos 25.000 vigilantes, a COPS esteve sempre avaliada como terceira empresa do sector a seguir às multinacionais Securitas e Prosegur.  Um resultado que transcreve a política social de trabalho que temos desenvolvido, onde a satisfação do colaborador é de extrema importância.

Estão sediados no Algarve. Como tem sido esse crescimento para outros pontos do país?

A nossa sede está no Algarve. Avançámos depois para uma filial na zona de Lisboa. Posteriormente, criámos uma filial no Porto e, mais recentemente, no Fundão, a qual abrange toda a zona da Guarda, onde temos alguns clientes da área hospitalar.

Manuel Sacramento e Pedro Toste

Olhando para os vossos clientes e tendo em conta o vosso posicionamento bastante transversal, qual é o vosso grande foco?

Grande parte dos nossos clientes estão na contratação pública. Porém, temos muitos clientes privados, nomeadamente, hotéis, resorts e condomínios e outros.

Na contratação pública destaco o Ministério da Justiça, através do qual prestamos serviço em todo o país, nomeadamente no Supremo Tribunal de Justiça, DCIAP e PGR. Destaco também as Infraestruturas de Portugal, onde contamos com cerca de 200 vigilantes, e o segmento hospitalar, onde prestamos serviço em 14 hospitais públicos a nível nacional.

Temos, neste momento, alguns clientes privados da área da saúde que mostraram interesse nos nossos serviços, o que é bastante bom e reflete a qualidade da nossa imagem.

O sector público acaba por ser o vosso grande cliente…

O sector público é o grande cliente da segurança privada, sendo que cerca de 60% ou mais da segurança privada está assente no sector público, sendo dai que advém os grandes problemas deste sector.

Quais são esses grandes desafios que identifica neste sector?

Há problemas gravíssimos. A contratação pública lança valores em concursos públicos inferiores ao custo real do serviço. Infelizmente, as grandes empresas do sector (as multinacionais), não estão a conseguir ganhar os concursos públicos, sempre que a condição de adjudicação de baseie no valor mais baixo.

As empresas incumpridoras conseguem apresentar valores muito abaixo do custo real.  Das cerca de 70 empresas do sector, apenas oito ou nove cumprem com os direitos laborais e mesmo assim com algumas falhas.

Quando uma empresa não paga horas noturnas a 25%, não paga subsídios de férias e Natal, paga hora extra a três euros por hora, não paga subsídios de alimentação aos fins-de-semana e obriga os vigilantes a trabalhar uma média de 192h mês em vez da média mensal anual de 173,33h, consegue valores, por portaria TDA de 24h, cerca de 1100 euros a 1200 euros abaixo do valor que uma empresa como a COPS ou as multinacionais Securitas ou a Prosegur conseguem.

Este é o grande problema na contratação pública. Ou seja, está em falta de uma análise ao custo real dos serviços a contratar que permita a definição de tabelas mínimas como já sugerido em 2012 pela ACT.

Muitos dos serviços de contratação pública estão a alimentar as inconformidades do sector e empresas que não deveriam estar abertas. Lembro que existem empresas no setor a pagar 4,00 euros/hora aos vigilantes com tudo incluído.

Este é um tema recorrente. O que falta para se chegar a esse entendimento?

Falta, acima de tudo, a vontade por parte do Governo. Urge a criação de iniciativas governamentais que terminem com esta política de más praticas a troco de serviços mais baratos.

Que outros desafios, considera que enfrenta este sector?

Um dos grandes desafios passa pela regularização dos processos de Transmissão de Estabelecimento. A lei, alterada a 7 Abril de 2021, tornou este procedimento como obrigatório com efeitos retroactivos desde Janeiro de 2021. Porém, a lei está de tal maneira dúbia que temos juízes com interpretações totalmente opostas.

Um outro problema grave é a existência de centenas, ou até milhares, de vigilantes prejudicados pela indefinição das responsabilidades da entidade transmitente e adquirente. A questão é se o transmitente tem de pagar os proporcionais relativos ao tempo de efectivo de trabalho na empresa ou não? E se o adquirente deve de pagar os proporcionais ou não?  O vigilante é sempre o grande prejudicado neste processo ficando a aguardar que o tribunal decida se vai receber os seus proporcionais da empresa “A” ou da empresa “B”. 30% dos vigilantes avançam para tribunal na luta pelos seus direitos. Cerca de 70% não o fazem, consequentemente, as empresas que não pagam ganham com isto.

É inadmissível que empresas que recebem mensalmente nas suas facturações os valores relativos a custos com proporcionais, aquando do processo de transmissão atribuam à empresa nova contratante a responsabilidade pela liquidação desses proporcionais.

Desde 2019, a COPS tem tomado a postura que julga ser a correcta para este problema. A empresa cessante líquida todos os proporcionais até à data término do contrato e a empresa adquirente deverá liquidar todos os proporcionais daí para a frente.

Falta talvez um entendimento e uma linha única.

Estamos neste problema desde 2019, quando começou a haver as transmissões de estabelecimento.

A dúvida está no artigo 285º e 286º do CT, devido ao conceito de “unidade económica”, ou seja, para haver uma transmissão de estabelecimento tem de existir uma unidade económica – um grupo autónomo e independente.

Porém, os vigilantes não são um grupo autónomo nem independentes. O artigo 285 foi criado para fusões e para vendas de empresas onde se aplica o conceito de “Unidade Económica” e quiseram aplicá-lo num processo de transmissão de estabelecimento o mesmo não se adapta. A alteração deste artigo que entrou em vigor a partir de 9 de Abril de 2021, com a criação da alínea 10, não deixou a lei clara e de entendimento comum.

É importante focar também a questão da alteração da lei da Segurança Privada, lei 46/2019, de 8 de Julho, através da qual foram criados diversos mecanismos para combate à contratação abaixo do valor, na responsabilidade solidária do cliente, como forma de fiscalização mais eficaz às más práticas, e a criação de inspecções multidisciplinares.

Essa alteração à lei saiu, mas não houve, até ao momento, a regulamentação da mesma. Tudo o que foi criado para a defesa das más práticas laborais não está ainda regulamentado em 2022. Situação que impede todas estas medidas de serem aplicadas.

O sector aguarda desde 2019 que saia a portaria de regulamentação da lei 46/2019 para que possam ser aplicados os determinados critérios.

A falta da portaria de regulamentação é um problema que transcreve bem a falta de vontade do Governo e a forma debilitada   como funciona a justiça do nosso país.

Olhando para estes dois últimos anos muito desafiantes, que colocaram o foco na importância do papel do vigilante e da segurança privada, o que aconteceu nesse período na COPS e como se adaptam 1800 pessoas para esta nova realidade?

Fomos das primeiras empresas a criar uma máscara própria certificada, viseiras em acrílico e tornando-as obrigatórias no fardamento dos vigilantes; criámos também um plano de contingência; e demos formação a todos os vigilantes sobre o plano de contingência e de como deveriam actuar.  

A administração da COPS com a crise pandémica optou por criar um seguro de saúde e um seguro de vida para todos os seus vigilantes. O seguro de saúde como forma de apoiar o vigilante nas doenças que pudesse ter ou que pudessem ser detectadas e um seguro de vida para o caso de morte.

Destaco também a certificação na área do COVID SAFE pela APCER que garantiu o cumprimento de todos os requisitos e orientações da Direcção Geral da Saúde, da Autoridade para as Condições do Trabalho e da Organização Internacional do Trabalho, no âmbito da pandemia mundial COVID-19. Foi importante não só para “obrigar” a empresa a cumprir estes procedimentos como também como factor de confiança aos nossos clientes e colaboradores.

Por fim, destaco uma comunicação bastante insistente junto dos nossos clientes, principalmente a parte da contratação publica, no sentido de incluir os nossos vigilantes no plano prioritário de vacinação. Primeiro, conseguimos que todos os vigilantes dos hospitais fossem vacinados, depois os dos tribunais, sendo que tivemos outros clientes que aceitaram a inclusão dos nossos vigilantes no plano prioritário de vacinação.

De facto, foram dias muito desafiantes, em que a segurança esteve no olho do furacão e que, talvez, de uma vez por todas seja vista como algo essencial.

O vigilante com esta pandemia do COVID ganhou força, levando as pessoas a olhar para eles de forma diferente e como peças essenciais para a segurança de diversas instituições.  Ou seja, deixaram de ver o vigilante como um simples indivíduo que está numa portaria a abrir cancelas.  A figura do vigilante hoje está em qualquer sítio como ferramenta essencial á segurança dos utentes. É sempre a pessoa da linha da frente, e com funções cruciais ao bom funcionamento de qualquer instituição.

Colocam o vigilante como a figura central da vossa actividade. Como encaram a entrada das novas tecnologias nas operações relacionadas com a segurança? Como se casa a tecnologia com aquilo que são as funções dos vigilantes?

Não há tecnologia sem alguém que a possa operar. Os drones, por exemplo, necessitam de alguém que saiba manuseá-los. A electrónica tornou-se numa ferramenta auxiliar ao trabalho no sentido de melhorar o trabalho dos vigilantes em determinados postos. Antigamente não havia o CCTV, esse trabalho era feito pelos vigilantes que faziam a ronda. Neste momento, podem estar num gabinete sentados a visualizar as câmaras.

A electrónica é apenas um complemento do trabalho do vigilante, melhorando significativamente a qualidade do seu trabalho e retira riscos, ou seja, um vigilante durante um controlo ou uma ronda com um drone não tem o risco de ser apanhado por algum ladrão ou mesmo cair e ter acidentes. A electrónica é imprescindível, mas como ferramenta de melhoria na qualidade do trabalho do vigilante.

Não vê isso como uma ameaça ao sector?

Não vejo de forma alguma a electrónica como ameaça, mas sim como um complemento de melhoria para o cliente e para a segurança do vigilante.  A electrónica tem de ser controlada por alguém e esse alguém é o vigilante. O vigilante tem de ser mais profissionalizado, ter formação na área informática, saber trabalhar com um drone e saber verificar determinadas centrais mais evoluídas. O único factor imprescindível passa por uma melhor formação dos vigilantes.

Aqui na COPS já estão a incorporar essas novas tecnologias?

Já utilizamos em espectáculos o drone e temos vigilantes formados que utilizam o drone como meio de auxílio às equipas que estão em trabalho.

A COPS está a terminar o processo de certificação pela DGERT, para sermos uma empresa certificada na área da formação e para podermos dar mais formação aos nossos vigilantes.

Tendo em conta estes dois últimos anos muito complexos, como olha para a COPS este ano?

Em 2021, a COPS conseguiu cumprir e superar os objectivos de facturação e do número de colaboradores definidos desde 2019.

Em 2022 estaremos mais calmos, mas de forma alguma parados, mantendo a sustentabilidade da empresa e a preservação dos actuais clientes que temos.

Como estamos muito bem avaliados pelos nossos clientes, isso dá-nos alguma vantagem em futuros concursos públicos. 2022 é um ano de consolidação do que temos feito, e de trabalhar a preservação dos clientes que temos, participando em algum concurso que apareça e seja interessante.

Em termos de novos investimentos, o que está previsto, nomeadamente em termos de aposta em novas localizações?

Pedro Toste – Iremos mudar a nossa filial do Porto para novas instalações com mais valências, até Junho, no sentido de prestar um melhor apoio à fiscalização dos transportes públicos na cidade do Porto. Nas Ilhas temos tido um crescimento bastante acentuado, especialmente nos Açores, sendo que na Terceira temos o hospital e os tribunais e em São Miguel temos mais postos de trabalho.

Neste sentido, estamos a estudar a possibilidade de abrir uma filial nos Açores. Gostaria de salientar também a aposta numa viatura eléctrica para rondas para o Governo regional dos Açores, o qual foi um investimento muito importante, nomeadamente ao nível da redução de custos com combustível e manutenções.

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