Riscos Psicossociais – relação entre a exigência e a resposta do trabalhador

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Por António Costa Tavares*

Riscos psicossociais são fatores presentes no ambiente de trabalho que podem afetar a saúde mental, emocional e social dos trabalhadores.

Esses riscos estão relacionados à interação entre o ambiente de trabalho, as condições de trabalho e as características individuais dos trabalhadores.

Se houver um desajustamento entre as exigências da organização via superior hierárquico, mas também de colegas ou de clientes em que o trabalhador tem dificuldade em dar resposta, pode levar numa primeira instância – curto prazo e numa segunda instância – médio e longo prazo consequências conforme a figura abaixo:

Os riscos psicossociais podem incluir diversos aspetos, tais como:
• Ausência de uma política de gestão de recursos humanos que promova a melhoria das competências técnicas e relacionais dos trabalhadores, que trace um perfil de desempenho meritocrático, que alinhe uma política de comunicação transversal entre outros vetores necessários a efetiva gestão de pessoas na organização;
• Carga de trabalho excessiva: quando os trabalhadores são sobrecarregados com um volume de tarefas muito elevado, prazos apertados ou pressões para produzir mais do que é possível;
• Falta de controle sobre o trabalho: quando os trabalhadores têm pouca autonomia ou participação nas decisões relacionadas às suas atividades laborais;
• Ambiente de trabalho desfavorável: quando há condições físicas inadequadas, como falta de iluminação, desconforto térmico, ventilação deficiente ou ruído excessivo, ausência de ergonomia, que podem causar desconforto e stress;
• Relações interpessoais prejudiciais: quando há conflitos entre colegas e/ou superiores hierárquicos, falta de apoio social e psicológico ou assédio moral utilizando a força institucional e posição hierárquica para molestar determinado trabalhador ou grupo de trabalhadores;
• Quando a liderança é autocrática e “blinda” a autonomia e a criatividade do trabalhador;
• Quando o trabalhador se empenha entusiasticamente e verifica que não foi premiado pela sua dedicação e profissionalismo, que detetou a falta de reconhecimento e recompensa pelo seu desempenho em detrimento de outros fatores ambíguos;
• Insegurança no emprego: quando os trabalhadores enfrentam incertezas sobre a permanência no emprego, como ameaças de demissão ou contratos temporários;
• Quando a comunicação é pouco clara e os objetivos são dúbios e pouco ou nada partilhados;
• Quando não há uma cultura de segurança e saúde registando-se inúmeros incidentes e acidentes de trabalho para não falar no flagelo silencioso das doenças profissionais ou doenças relacionadas com o trabalho.
Esses fatores podem gerar quadros de stress (quer inúmeros episódios de alarme, quer progressivamente de resistência), ansiedade, esgotamento emocional e outros problemas de saúde mental nos trabalhadores. Além disso, os riscos psicossociais podem ter impactos negativos na produtividade, na qualidade do trabalho e no clima organizacional:
• Problemas de saúde mental: Os riscos psicossociais podem contribuir para o desenvolvimento de doenças mentais, como ansiedade, depressão, stress crônico e esgotamento emocional (burnout). O ambiente de trabalho desfavorável, a falta de apoio e a pressão excessiva podem sobrecarregar os trabalhadores e afetar negativamente sua saúde mental, tendo repercussões também na sua vida pessoa, e familiar;
• Baixa produtividade e qualidade do trabalho: Quando os trabalhadores estão expostos a riscos psicossociais, a sua capacidade de concentração, de criatividade e de desempenho pode ser afetada negativamente. Isso pode levar a uma diminuição da produtividade e da qualidade do trabalho, prejudicando os objetivos da sua organização;
• Aumento do absentismo e do presentismo: Os riscos psicossociais podem levar os trabalhadores a se ausentarem mais do trabalho devido a doenças mentais ou físicas relacionadas ao episódios de stress, ansiedade e depressão. Além disso, mesmo quando estão presentes, podem não estar plenamente envolvidos e produtivos, o que é conhecido como presentismo ocupacional;
• Conflitos interpessoais e ambiente de trabalho negativo: A falta de apoio social e psicológica, a presença de episódios de assédio moral e a falta de comunicação efetiva podem contribuir para um ambiente de trabalho tóxico e desfavorável. Isso pode resultar em conflitos interpessoais, baixa motivação e empenhamento e um clima organizacional negativo;
• Aumento dos custos para a organização: Os riscos psicossociais têm um impacto financeiro significativo para as organizações. Os custos associados ao absentismo e ao presentismo, rotatividade de trabalhadores, baixas médicas e tratamento de problemas de saúde mental podem ser substanciais e quadruplicar os custos diretos, elevando os custos indiretos que irão debilitar a estrutura humana e a imagem para o exterior da organização.

É importante que as empresas e as organizações adotem medidas para identificar numa fase embrionária situações passíveis de originar riscos psicossociais nos seus trabalhadores, prevenir que eles venham a originar uma dimensão de difícil mitigação e gerir os riscos psicossociais envolvendo vários atores interpluridisciplinares, promovendo um ambiente de trabalho saudável e favorável ao bem-estar dos trabalhadores. Isso pode envolver a implementação de políticas de saúde mental, a oferta de programas de apoio psicossocial, a melhoria das condições de trabalho e o incentivo à participação e ao diálogo entre os trabalhadores.


Não nos esqueçamos que a personalidade (caráter e temperamento) difere nas respostas causais e na forma como o trabalhador gere a relação entre a exigência e a sua resposta imediata.
Não nos esqueçamos que os riscos psicossociais são de difícil mensuralidade.
Não nos esqueçamos que atualmente com a pressão do mercado, com a introdução de novas tecnologias, com o trabalho híbrido e as plataformas digitais, há uma panóplia de riscos psicossociais (tradicionais e novos), escondidos, retardados conscientemente devido ao medo de perder o vínculo contratual, de perder uma promoção ou até de perder o seu orgulho como PESSOA, sacrificando o seu organismo à custa da administração de ansiolíticos ou psicotrópicos.

É um assunto que merece a melhor atenção dos profissionais das áreas da segurança e saúde no trabalho, dos psicólogos organizacionais, técnicos de serviço social entre outras valências relevantes no diagnóstico e mitigação dos riscos psicossociais.

*A. Costa Tavares

Técnico Superior de Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho

Docente, formador e consultor em matéria de SST e Gestão de Recursos Humanos e Psicologia do Trabalho

Quadro da Câmara Municipal de Cascais

Membro da Comissão de Trabalhadores da CM