Polivalência em Tempo Real

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Por Carla Prudêncio, Técnica Superior Segurança e Saúde do Trabalho na MEDWAY Operador Ferroviário de Mercadorias, SA

Parece agora uma utopia, aquela fase em que para se ser Técnico de Segurança, bastava tirar um curso de meia dúzia de horas numa entidade formadora, e ir para o terreno (geralmente obras) para ganhar experiência.

Bom, a verdade é que isso ainda é possível, mas face aos desafios que hoje vivemos, o que é preciso para se ser um bom Técnico de Segurança?

Desengane-se quem ainda pensa que são os cursos em cima de cursos.

Hoje, para se ser um bom profissional, naturalmente que o conhecimento é fundamental, sim, mas este não vem mais na forma das clássicas formações em sala de aula, mas sim sob forma da partilha do conhecimento, seja do aprender com o colega com mais experiência ou de vasculhar a fundos todos os sites do governo.

Basicamente, mantermo-nos na actualidade, e ter bastante cuidado com as fake news.

Agora, a palavra “Segurança” virou moda em todos os telejornais das 20h. Para se ser um bom técnico de Segurança é preciso conseguir acompanhar tudo quase que em passo de corrida: é estar constantemente a pesquisar as orientações divulgadas nas páginas oficiais; é tentar não perder uma publicação nos sites das respectivas autoridades; é procurar beber as informações que nos chegam de grupos da área, em que as experiências e técnicas lá de fora, publicadas em fóruns, nos possam ser úteis e, no meio disto tudo, continuar o nosso trabalho diário, fazendo a ponte com as entidades patronais, as entidades externas e muitas das vezes, com os nossos colegas de trabalho, também eles sedentos de alguma informação nova.

Que a nossa polivalência não é novidade, todos nós sabemos. Já demos por nós a ser formadores, psicólogos, inspectores, gestores de fornecedores e logísticas, alfaiates, súbitos especialistas de doenças (COVID-19), e sabe lá Deus o que cada novo dia nos reserva.

Mas essa polivalência não se fica apenas pelas skills.

Quando tiramos um curso de Segurança do Trabalho, generalista nos seus conteúdos, saímos para um mercado que pode ser qualquer coisa: tanto podemos ir para a Construção Civil, como com essa mesma formação, ir parar ao sector Hoteleiro.

Por ser uma profissão complexa, a nível das imensas possibilidades distintas de saídas profissionais, é imperativo reforçar o quão bem preparados temos que estar, nas mais diversas frentes.

Aqui, mais uma vez, podemos constatar que não nos basta tirar o tal curso que nos confere o certificado.

Além de polivalentes, temos que ser autodidatas, aprender sobre a área de actividade do negócio, sobre quais as tarefas específicas, as dificuldades dos trabalhadores… e, claro, toda a matéria de aplicabilidade legal específica daquele sector.

Obviamente para que possamos ser, necessitamos ter.

Infelizmente, muitos de nós, ao longo do caminho, se vão esquecendo que um dia também foram técnicos que necessitavam de beber a informação para poderem construírem a sua carreia.

De todas as coisas más que este vírus nos trouxe, também nos trouxe algumas coisas que devemos recordar, nomeadamente, a entre ajuda.

Vivemos tempos de apoio e partilha.

Tem de partir de nós, técnicos, ensinar a quem não sabe, guiar quem precisa de auxílio profissional e orientar quem está desorientado. Temos que admitir, que com a velocidade da informação nos dias de hoje, estar perdido é algo bastante legítimo a qualquer profissional.

Esta é a hora de nos unirmos, em prol da protecção e segurança não só dos nossos colegas, mas também das nossas famílias, pois todos os actos que vamos implementar nas nossas empresas, irão ter impacto directo e indirecto nas nossas vidas pessoais.

Vamos empoderar a profissão, e ter orgulho desta área tão multifacetada, que de aborrecida e monótona, felizmente não tem nada.