Causas básicas da sinistralidade laboral – 3 níveis ação

Opinião Segurança no Trabalho

Os acidentes de trabalho são encarados na Gestão de Recursos Humanos em geral e na área da Segurança e Saúde no Trabalho em particular como uma disfunção da relação Homem-Trabalho numa ótica reativa acarretando consequências nefastas do ponto de vista humano e material, com custos desmesurados quer diretos, quer indiretos, cuja dimensão imaterial vai muito além do bom senso organizacional, com repercussões irreversíveis para o sinistrado que altera significativamente a sua relação com o “mundo do trabalho” desvinculando-se progressivamente do contexto socioprofissional e refugiando-se numa esfera de perda de autoestima e de valorização como Pessoa e como Profissional.

A estratégia única, para evitar justamente este desequilíbrio, é claramente a PREVENÇÃO intrínseca cuja responsabilidade transversal cabe a todos os intervenientes, sejam colaboradores, trabalhadores diretos, prestadores de serviço, entidades intervenientes ou órgãos executivos da empresa. Podemos mesmo relaçar que a prevenção dos riscos profissionais se assume como uma preocupação tridimensional (estado-empregador-trabalhador) a consolidar com o esforço, comprometimento e dedicação de todos.

Também é do conhecimento geral dos gestores de recursos humanos e em particular dos técnicos de segurança e saúde no trabalho bem como de outros intervenientes no processo produtivo e operacional, que a grande maioria das causas dos acidentes de trabalho se consubstanciam em três níveis interdependentes mas com características diferenciadas e muito próprias:

MACRO

  • Sistema de Gestão de Estratégica da Organização;
  • Cultura de segurança e saúde;
  • Sistema de Gestão de recursos Humanos;
  • Estilo de liderança e comunicação;
  • Política de formação profissional e desenvolvimento humano;
  • Clima organizacional;

INTERMÉDIO

  • Condições materiais e contextuais onde o trabalho é efetuado;
  • Supervisão dos trabalhadores;
  • Manutenções periódicas;
  • Desgaste das ferramentas, máquinas e outros equipamentos de trabalho;
  • Materiais adequados à função;
  • Normas, procedimentos e instruções de trabalho, etc..

MICRO

  • Personalidade dos trabalhadores;
  • Temperamento e carácter;
  • Aptidão (habilidade) para a função;
  • Conhecimento da função;
  • Confiança e motivação;
  • Condições físicas, fisiológicas e psicológicas;
  • Capacidade de trabalho sob pressão;
  • Gestão do stress profissional;
  • Habilitação profissional;
  • Formação técnica, entre outras.

Se o nível macro é a “motherboard” do sistema de gestão da Segurança e Saúde no Trabalho e, cabe a este patamar o proporcionar uma CULTURA de SEGURANÇA implícita em cada gesto dentro da organização (e não só!), criando estratégias de prevenção e proteção em todos os níveis de ação, é ao nível intermédio e micro que indubitavelmente são originadas a maioria das falhas e inconformidades em matéria de incumprimento no que concerne à segurança e à saúde a que podemos denominar de causas básicas dos acidentes laborais.

Estas causas básicas estão na génese das condições inseguras e dos comportamentos de risco. Aliás nestes dois níveis recaem a quase totalidade dos incidentes e acidentes de trabalho e onde o técnico de SST (e não só) deverá incidir o seu acompanhamento diário.

Mas para percebermos melhor esta disfuncionalidade, temos necessariamente de reconfigurar o modelo de gestão, ou seja, o modelo macro. Três exemplos muito paradigmáticos:

“O trabalhador recorrentemente desempenha a sua função com erros, falhas de processo e pequenos incidentes diários pelo facto de a sua chefia lhe ter colocado a manusear um determinado equipamento sem que lhe fosse administrada formação técnica e operacional concreta para aquela função de risco;”

“Determinado trabalhador padece de um quadro sintomático de saúde que lhe dificulta o seu desempenho físico exercendo sobre o mesmo um esforço suplementar cuja probabilidade de vir a sofrer um acidente é relevante;”

“Determinada máquina e/ou equipamento de trabalho mecânico se encontrar com falta de manutenção, podendo em qualquer altura sofrer danos e atingir o trabalhador que está a operar.”

Inúmeros seriam os exemplos de situações disfuncionais fruto da inter-relação entre estes três níveis. Se o sistema estiver “oleado” as causas básicas tendem a diminuir ressalvando sempre a componente condição pessoal (personalidade, o temperamento, o carácter, etc.) que se reveste sempre de uma grande imprevisibilidade. Mas mesmo nesta dimensão, se existir uma supervisão dimensionada, um acompanhamento por parte das chefias, uma liderança e apoio constante, efetivamente estamos a construir um caminho para paulatinamente irmos debelando situações passíveis de ocorrência situacional de falhas e/ou erros, de incidentes e acidentes de trabalho.

Em bom rigor, os técnicos de Segurança e Saúde no Trabalho têm aqui uma missão relevantíssima na assimilação de quadros percecionais que potencialmente possam vir a induzir disfuncionalidade na ação do trabalhador, diagnosticando-os, alertando-os, reportando-os, corrigindo-os, motivando, ouvindo, aconselhando e acompanhando os trabalhadores no seu dia-a-dia.