Logista Portugal encara a segurança como uma área estratégica

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Em Portugal, o grupo Logista dedica-se à prestação de serviços de logística, distribuição e transporte com foco em diversas tipologias de sectores, contando com 23 plataformas logísticas, mais de 200 veículos e 530 colaboradores internos. A Security Magazine esteve à conversa com Sérgio Gonçalves, country corporate security & safety manager e delegado de segurança do grupo em Portugal, na sua sede em Alcochete, Setúbal. Como comenta, hoje olha-se para a segurança como “uma área estratégica com report directo à direcção-geral”.

Security Magazine – Como foi o seu percurso profissional até chegar à segurança da Logista?

Sérgio Gonçalves – Cresci sempre ligado a esta área pois o meu pai era da GNR e o meu avó da Guarda Fiscal, ou seja, a segurança é algo que vem de família. Por interessar-me pela Polícia Judiciária, ingressei em Sociologia, curso que dava acesso a essa área. Em 2007, quando terminei a Licenciatura, como não existiam concursos abertos, iniciei-me como consultor na área de Recursos Humanos. Comecei, na altura, a perceber que as empresas estavam a exigir mais conhecimentos ao nível da Higiene e Segurança no Trabalho (HST) e, por isso, realizei uma Pós-graduação em HST.

Durante o curso, tive a felicidade de trabalhar e integrar o departamento de Engenharia na Browning Viana, fabricante de armas, onde em colaboração com o departamento de HST realizamos um inventário do parque de máquinas e analisamos medidas de correcção e protecção de operadores. Após esta situação, em 2011, surgiu a Logista.

Embora sejam áreas muito distintas ajudaram-me a construir o que sou hoje em termos profissionais e pessoais, nomeadamente na forma como interajo com as pessoas e olho para o safety e security. Nos Recursos Humanos lidamos muito com pessoas, o que me trouxe algum treino na área da segurança, permitindo-me compreender os diferentes perfis e determinados comportamentos das pessoas no dia-a-dia.

Após ingressar na Logista e para aprofundar e actualizar o conhecimento na área da Segurança, conclui duas pós-graduações, em Direcção e Gestão de Segurança e Criminologia e Investigação e o Mestrado em Saúde e Segurança no Trabalho.

Como encara esta entrada na Logista em 2011?

Na altura, o grupo já tinha uma direcção de segurança em Espanha e pretendia replicá-la em Portugal. É um projecto que me encanta desde início. Gosto de pegar nos projectos quando estão a nascer e da possibilidade de poder construir algo novo.

O seu foco inicial foi, essencialmente, a área de security?

Sim. Em termos de Security, estávamos muito mais avançados. O Safety, naquela altura, apenas contemplava os procedimentos mais básicos, previstos na legislação. Ter formação nessa área também foi uma mais-valia, permitindo-me contribuir positivamente a esse nível.

A Logista há cerca de cinco anos decidiu implementar aqui certificações na área de SST. Criamos, então, um Comité de Safety, seguindo os passos do Comité de Security, já existente. Estes Comités permitem termos todas as direcções de negócio reunidas para tomar as decisões críticas do grupo nessas matérias.

Qual a importância que estes dois comités assumem dentro do grupo Logista?

São determinantes para a estratégia do Grupo, isto porque, se conseguem reunir as várias Direcções dos Negócios e algumas áreas corporativas, nomeadamente Jurídico, Recursos Humanos e Operações, para além da Segurança e discutir os temas relevantes e estratégicos para cada negócio e para o Grupo.

 Assim, torna-se mais fácil tomar as decisões, porque os temas são discutidos entre todas as áreas, em simultâneo e tenta-se sempre chegar a um entendimento que seja favorável para todos. Por exemplo, quando recebemos indicações que em Itália a Covid-19 se estava a tornar um caso muito sério, reunimo-nos imediatamente, algumas semanas antes de se tornar sério em Portugal, e em conjunto definimos medidas que podiam proteger as pessoas e consequentemente os negócios.

Muitos projectos relevantes para a empresas no que respeita às áreas da Segurança, têm sido discutidos e trabalhados nestes Comités. Outro exemplo, é a certificação na NP ISO 45001:2019, que determina que a Gestão de Topo tem que estar activamente envolvida na tomada de decisão relativamente a temas de Saúde e Segurança no Trabalho.

Como já tínhamos este Comité há alguns anos, tem sido relativamente fácil trabalhar na migração no que respeita ao envolvimento da Gestão de Topo, pois esta equipa já estava criada e bastante envolvida nas decisões estratégicas da SST e a SST já era considerada nas decisões estratégicas da empresa.

Contudo, como em qualquer sistema de gestão, saímos a ganhar, porque vamos adquirindo novas competência, introduzindo e aplicando mais boas práticas e trabalhando na melhoria contínua, que no fundo é isso que se pretende com os sistemas de gestão.

Como é a vossa estrutura organizacional?

Em Portugal, a nível corporativo, contamos com o departamento de Segurança, RH, Jurídico, Financeiro e Operações. A segurança reporta directamente à direcção-geral. Importa referir que a área do Safety está divida entre a parte de Saúde no Trabalho e Segurança no Trabalho, sendo a primeira integrada nos RH.

Actualmente quantas pessoas trabalham no grupo Logista em Portugal?

Temos 530 pessoas directas e outras tantas indirectas.

Que desafios de segurança coloca a dinâmica da vossa actividade, que passa por toda operação logística, transporte, distribuição, aliada às diversas tipologias de clientes e produtos?

Temos, de facto, actividades e clientes muito diferentes e distintos. Esta realidade é muito interessante e apresenta-nos riscos diferentes, com diferentes formas de estar e  pensar.

O grande desafio é conseguir chegar a toda a gente, sabendo que existem sectores, como o tabaco, produtos farmacêuticos e transporte de dinheiro, por exemplo, que têm regras de segurança muito apertadas. Porém, hoje as pessoas percebem essas exigências e compreendem que a segurança pode ser uma aliada muito forte do negócio.

A segurança é uma aliada e não um entrave…

Exactamente. A forma como estamos organizados na área da segurança permite-nos inclusivamente ser uma mais-valia nos negócios, ajudando-os a ser mais competitivos. Há negócios que podem ser concretizados devido à aposta que fazemos nesta área e pela comunicação dessa aposta aos nossos clientes, os quais têm cada vez mais preocupação e exigências nessa matéria. No fundo, podemos fornecer outro tipo de controlo e segurança da mercadoria ao longo de toda a cadeia logística.

O que poderá acontecer na vossa operação que será um desafio à vossa segurança?

Com 23 plataformas próprias, uma frota própria e dedicada, que vão aumentando ao longo dos anos, os desafios em termos de segurança são diários e estão, essencialmente, relacionados com a possibilidade de ocorrência de assaltos e furtos, contrafacção e contrabando. Apesar de termos medidas de segurança e protocolos de actuação muito bem definidos, há sempre um risco.

É, por isso, importante a aposta em novas soluções e sistemas de segurança?

Sim, esse é também um desafio, ou seja, encontrar sistemas e novas soluções para os nossos armazéns. Porém, quando o fazemos, procuramos seleccionar uma nova solução com foco no futuro.

Falamos de que tipologia de soluções?

Essencialmente, CCTV, controlo de acessos e sistemas anti-intrusão. Porém, não apostamos apenas em soluções a nível de electrónica, ou seja, temos uma série de procedimentos escritos muito robustos e apostamos fortemente na formação das pessoas, até porque os nossos primeiros responsáveis de segurança são as pessoas, nomeadamente as que estão no nível mais baixo da hierarquia. Neste sentido, temos uma cultura de segurança já bastante incutida em toda a organização.

Os próprios armazéns contam com zonas de acesso restrito?

Sim, quase todos têm essa realidade, sendo que nos armazéns de maior risco temos zonas reservadas. Também os nossos sistemas de gravação estão em salas restritas e os bastidores contam com alarmes em caso de abertura indevida de portas.

 Quando falamos da frota de veículos que aspectos são tidos em consideração?

Temos vários tipos de frota e contamos com uma frota própria com mais de 200 veículos, todos equipados com sistemas de segurança, localização e procedimentos de abertura de portas, por exemplo. Procuramos categorizar a frota por nível de risco que vai de 0 a 5, tendo em conta a tipologia, valor e quantidade da mercadoria transportada e a rota e viatura. Nos veículos que transportam produtos de maior valor contamos com um sistema de segurança mais elevado.

Temos mercadorias com muito valor e é essencial acautelar a segurança dos condutores e a segurança da mercadoria. Não só porque temos os nossos próprios procedimentos internos como os próprios clientes e indústrias têm as suas exigências, regras, procedimentos e normas internacionais. Neste sentido, somos constantemente auditados sobre as medidas de segurança adoptadas.

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A pandemia trouxe-vos novos desafios de segurança?

Já tínhamos procedimentos muito consolidados a nível europeu. Habitualmente, no nosso caso concreto, em Itália e França o nível de risco é mais elevado do que em Espanha ou Portugal. No início da pandemia, tendo o foco inicial estado em Itália, recebemos logo instruções e orientações bastante claras. Essa realidade permitiu-nos gerir a situação da melhor forma possível e definir rapidamente procedimentos a implementar. Uma das coisas que definimos logo foi estabelecer que a segurança era uma das áreas prioritárias, sendo que estamos aqui 24 horas.

Nunca faltaram equipamentos de protecção e os procedimentos de actuação foram postos em prática imediatamente e o que é certo é que desde o início provou-se que foram muito eficazes. Isso permitiu que a nossa equipa de segurança mantivesse o nível de serviço a que habitou os negócios e os clientes, embora a partir de Março de 2020, as solicitações junto da área da Segurança tenham aumentado, pois tanto a Safety como a Security têm desempenhado um papel muito activo na prevenção da Covid-19.

Além da aposta também em EPIs, apostaram em novas tecnologias de resposta à pandemia, como por exemplo câmaras térmicas?

Tivemos algumas abordagens nesse sentido. Porém, consideramos que esse investimento não se justificava  e não traria benefícios à organização. Apostamos em termómetros com alguma qualidade, desenvolvidos para esse propósito e tem-se demonstrado que foram um investimento adequado.

A central de segurança da Logista permite ao grupo controlar toda a frota e armazéns através de um único sistema. Esta central permitiu uniformizar todos os sistemas dos armazéns em termos de segurança, permitindo a expansão e fácil agregação de novos equipamentos, como câmaras de segurança. O videowall possibilita uma visualização de tudo o que acontece nas 23 plataformas, nomeadamente ao nível de controlo de acessos. O sistema permite ainda o controlo das viaturas a circular em todo o país.

Que evoluções têm sido feitas em termos de novos projectos?

Actualmente temos alguns projectos a ser desenvolvidos, alguns dos quais confidenciais. Uma das grandes apostas que fizemos passou por um sistema que permite controlar os 23 armazéns através de um único centro de controlo, ao nível de CCTV, controlo de acessos e sistemas anti-intrusão. Este sistema substituiu o que tínhamos no passado, sendo que passamos a contar com uma rede separada e uma arquitectura diferente, novos equipamentos, um videowall, sala/datacenter para isolamento de equipamento climatizada, entre outros aspectos. É um projecto que está em permanente desenvolvimento e melhoria.

Ao nível do Safety destaco que temos feito um grande investimento na parte da certificação e estamos a migrar para a NP ISO 45001:2019, a qual estará concluída em Setembro.

Importa referir que temos uma parte do investimento anual destinado à Investigação e Desenvolvimento em Segurança, sendo que existe anualmente uma parte significativa do orçamento afecta à área da segurança.

Simultaneamente, além dos armazéns, conseguem controlar toda a frota que anda na rua?

Sim, criámos um serviço próprio de acompanhamento da frota, exclusivo para transportes de mercadoria de elevado valor. Este serviço conta com uma equipa com formação específica nesta área e que faz o acompanhamento permanente da frota, nomeadamente paragens indevidas, aberturas de porta, entre outros.

 Este sistema foi integralmente desenvolvido pelo grupo?

Sim. A Logesta, uma empresa do grupo, tinha um sistema próprio para seguimento de camiões. Por não encontrarmos ninguém no mercado capaz de desenvolver um sistema que nos permitisse incluir determinados procedimentos, decidimos falar com a Logesta e desenvolver o sistema internamente. Em conjunto, procuramos equipamentos e desenvolveu-se o software de forma a ficar ajustado às necessidades dos negócios em termos de segurança. Inicialmente foi implementado em Espanha e depois replicado em Portugal.

Actualmente, o sistema permite saber se a chave está na ignição da viatura, bloquear e desligar a viatura, abrir e fechar as portas, ver imagens em tempo real do interior das viaturas, entre outros. No fundo, conseguimos controlar tudo a partir da central. O projecto tem vindo a ser melhorado e optimizado.

Em Portugal contamos com mais de 40 veículos dedicados que são controlados por este sistema e em Espanha mais de 200. Além disso, a restante frota própria conta com um outro sistema de segurança mais ligeiro.

Procuramos com estas soluções que os negócios funcionem e facturem e que a segurança não seja um entrave a esse crescimento.

Como avalia estes 10 anos ao serviço da segurança da Logista Portugal?

Olho para este percurso com bastante orgulho e muita satisfação.  Temos um espírito de missão de ajudar as empresas do grupo a serem mais produtivas e que olhem para a segurança – safety e security – como  parte da estratégia da organização, além de ajudarmos as pessoas no seu bem-estar, segurança e protecção.

Ao longo destes 10 anos, a coisas correram muito bem. A segurança, que inicialmente não era profissionalizada, hoje conta com uma equipa de vigilantes maior, com novos serviços e passou a ser muito mais requisitada pelos próprios negócios. Depois de muita luta, hoje olha-se para a segurança de outra forma, como uma área estratégica com report directo à direcção-geral. Sei que a minha voz tem expressão e valor.

Em Portugal, o grupo conta com as empresas Companhia de Distribuição Integral Logista Portugal, dedicada à prestação de serviço logístico completo no sector tabaqueiro português, incluindo todos os serviços da cadeia de valor logístico, desde a importação à venda e cobrança para mais de 100 grossistas. A MIDSID é outra empresa do grupo e um dos maiores operadores grossistas de produtos de tabaco e conveniência em Portugal e, segundo aponta, o único fornecedor com cobertura em todo o país. A empresa compra, armazena, prepara e distribui produtos de conveniência e complementares ao tabaco a cerca de 15.000 retalhistas. A Integra 2 é uma transportadora de pequenas embalagens industriais com capacidade para transporte convencional e urgente, a temperatura ambiente e refrigerada – 2ºC a 8ºC e 25ºC e inferior, sendo certificada em Espanha com a norma CCQI. A Logesta dedica-se ao transporte de longo curso e conta com mais de 1600 camiões a nível global; a Logista Pharma é especializada no sector farmacêutico e trabalha com produtos de prescrição, veterinária e promocionais e, por fim, a Nacex, dedicada ao transporte urgente de pequenas embalagens e distribuição de documentação, contando com 29 plataformas e mais de 1500 veículos na Península Ibérica.

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