“Segurança tem tudo a ver com comportamento, cultura e forma de estar”

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A DHL Supply Chain é um dos maiores operadores logísticos no mundo. Rui Gomes, country manager da empresa em Portugal, destaca à Security Magazine que a segurança e saúde dos seus colaboradores é uma preocupação número 1. O responsável destaca alguns projectos desenvolvidos dentro da organização tendo em vista a garantia e manutenção de uma verdadeira cultura de segurança.

Security Magazine – Qual a importância que a segurança assume dentro da vossa organização?
Rui Gomes – Como parte da estratégia de ESG da DHL, especificamente na componente “Social” pretendemos ser uma empresa líder e de referência. Nesse sentido, a saúde e segurança dos nossos colaboradores é a nossa preocupação número um. “Safety First” é o nome dado a este aspecto cultural dentro da organização para que esteja presente em todos os níveis da empresa. Trabalhamos este tema em vários aspectos ou dimensões fundamentais dos quais gostaria de destacar dois. Um primeiro mais técnico ou processual, onde procuramos definir toda a nossa organização dos distintos layouts, sinalética, processos e procedimentos, garantindo a protecção de pessoas, equipamentos e mercadorias. Ou seja, criar as condições seguras de trabalho sejam elas processos, informação, procedimentos, instruções de trabalho, equipamentos e instalações adequadas. Numa outra dimensão, considerada mais crítica pela sua complexidade, trabalhamos todos os aspectos culturais. Nesta dimensão, trabalhamos a formação e sobretudo a influência de comportamento e consciência. Todos os nossos colaboradores passam por formações regulares nesta área, tanto técnicas, como comportamentais e são fortemente motivados a preocuparem-se com a sua segurança e dos colegas em primeiro lugar.

Focando naquilo que são os vossos colaboradores, visitantes e infra-estruturas, quais os vossos maiores desafios em termos de segurança no que toca à movimentação de cargas (empilhadores) nas operações de carga e descarga e armazenagem de mercadorias? Actualmente, como é constituída a vossa frota de equipamentos de movimentação de cargas em termos de tipologia de equipamentos e número e que aspectos mais valorizam na segurança de um equipamento de movimentação de cargas?
Um dos maiores desafios da segurança é sem dúvida a movimentação mecânica de cargas. Para assegurar a segurança nesta fase do processo precisamos de ter os equipamentos adequados e sobretudo o seu uso no pleno cumprimento das regras instituídas.
Todos os nossos colaboradores que movimentam equipamentos têm obrigatoriamente que passar por uma formação / certificação técnica, que os habilita para esta tarefa. Sem esta formação não podem usar qualquer equipamento na organização. Esta habilitação é controlada através de cartões únicos, pessoais e intransmissíveis de acesso e activação dos equipamentos. Com este cartões conseguimos saber exactamente quem manobra cada equipamento em cada instante.
Este sistema é complementado com um conjunto de sensores que permite detectar pro-activamente embates e contextos em em que tal ocorre, levando, em função da dimensão do mesmo à paragem do equipamento e à necessiade de desbloqueio por nivel hierárquico superior. Com isto pretendemos responsabilizar e entender sobretudo onde existem áreas de risco para poder atuar pro-activamente e evitar incidentes.
Com uma frota superior a 200 unidades das diferentes tecnologias, desde os standard preparadores de encomendas, transpaletes eléctricos, empilhadores, equipamentos retráctil de corredores standard ou trilaterais, a utilização destes sistemas tecnológicos de controlo é crítica e fundamental. Tratam-se de sistemas que permitem todo um “tracking and monitoring” da utilização individual dos equipamentos e colecta de dados estatísticos que são um factor crítico para a segurança e uso eficiente dos equipamentos.
No presente recente estamos a evoluir para os equipamentos de movimentação de carga sem condutor (AGVs) sendo que aqui o desafio é todo o trabalho de configuração tecnológico necessário para garantir uma interacção com os restantes actores no armazém de forma segura.

Que estratégias têm desenvolvido no sentido de minimizar potenciais incidentes no interior das vossas infra-estruturas?
O nosso modelo de gestão operacional é fortemente orientado para a implementação de práticas baseadas na segurança. A título de exemplo de algumas dessas boas práticas posso partilhar que os nossos colaboradores iniciam a sua formação na empresa com os aspectos de H&S. É uma formação absolutamente mandatória para inicio de actividade na DHL, seja qual for a função. Por outro lado e de um ponto de vista mais operacional, todas as nossas instruções de trabalho são elaboradas cuidadosamente tendo por base a execução da cada tarefa em perfeitas condições de segurança, exemplificando os EPIs que devem ser usados em cada etapa do processo e a sua razão de ser.
A nossa equipa de H&S em conjunto com as áreas de supervisão executa auditorias de verificação, a que chamamos os GEMBAS de processo na componente H&S. Os briefings de início de turno incorporam também esta dimensão segurança, com a partilha de indicadores como por exemplo os acidentes de trabalho com e sem tempo perdido por cada 200.000hrs (LTIs), os dias sem acidentes e sobretudo os “quase acidentes” que são situações de perigo identificadas pelos trabalhadores e que nos permitem trabalhar de forma efectiva a prevenção. Por fim, destacar as 12 regras de segurança que são mandatórias cuja tolerância ao seu incumprimento é “zero” de forma transversal.
Tendo por objectivo gerir este tema num contexto positivo e tentando de alguma forma implementar alguma “gamificação” do tema, contabilizamos o número de dias sem acidentes por unidade operacional e premiamos os mais bem pontuados. Também estimulamos a partilha de sugestões por parte de todos os níveis da organização. Este tema tem que estar presente e tem que ser visto como positivo.

Na vossa perspectiva, como se consegue implementar uma verdadeira cultura de segurança dentro de uma organização cujo core business é a logística?
O ponto inicial é tornar este tema estratégico e gerir top down para conseguir resultados bottom-up. A direcção da empresa deve liderar pelo exemplo e colocar o tema no topo das prioridades. A captação e mobilização de interesse dá-se quando os colaboradores o entendem como uma preocupação com o seu bem-estar.
O maior erro é querer impor um conjunto de regras que não está à partida incorporada num comportamento expectável e numa forma de estar. Segurança tem tudo a ver com comportamento, com cultura e forma de estar. A direcção pode e deve criar todos os meios seguros em termos de ambiente de trabalho, mas a forma como cada colaborador vai interagir com esse ambiente é da exclusiva responsabilidade de cada um. No final do dia, são as decisões individuais de como eu, enquanto colaborador, quero lidar com o tema, que fazem a verdadeira diferença.

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