Por Paulo Gonçalves, Coordenador do Gabinete de Prevenção e Segurança (GPS) da Caixa Geral de Depósitos*
Os avanços tecnológicos têm transformado o mundo, tornando-o cada vez mais competitivo. As empresas enfrentam novos desafios que implicam maior eficácia, eficiência e produtividade, necessitando, assim, de profissionais cada vez mais proactivos.
Este novo paradigma, que resulta da interação entre o individuo, as suas condições de vida e as condições de trabalho acarreta riscos psicossociais com impacto na saúde e segurança no trabalho, criando, cada vez mais, problemas laborais.
Os efeitos da pressão do tempo, da execução de múltiplas tarefas em simultâneo, de insuficiente autonomia, de relacionamentos interpessoais conflituosos, da falta de estímulos positivos, entre outros fatores integrantes na rotina organizacional, constituem fatores de risco para a perda de produtividade, potencializando, por exemplo, acidentes de trabalho, absentismo, ansiedade, depressão, stress e a deterioração do ambiente social no trabalho. Estes acidentes e doenças profissionais, que penalizam a produtividade da organização, têm um custo humano para os trabalhadores e suas famílias e implicam um incremento no consumo de recursos dos sistemas de saúde.
É premente que a legislação em vigor em Portugal, em matéria da Segurança e Saúde no Trabalho, seja revista e atualizada (a Lei é de 2009) de modo a assegurar a regulamentação de preocupações com a saúde mental, com fenómenos relacionados com o burnout e as novas formas de organização do trabalho.
A prevenção dos riscos psicossociais é, por isso, um dos pré-requisitos mais importantes para uma boa saúde mental no trabalho e apesar dos inúmeros estudos realizados, estes riscos continuam a ser considerados como um tema permeado de subjetividade, com uma frágil base teórica e com metodologias envoltas em ceticismo e desconhecimento.
O grande desafio é implementar um processo de prevenção em todas as organizações para cobertura desta problemática, no sentido de traçar um conjunto de estratégias e programas adequados a cada organização.
Importa destacar que as novas políticas de trabalho podem contribuir positivamente para o seu sucesso (por exemplo, a semana de 4 dias de trabalho, o regime híbrido, a utilização da inteligência artificial) e, consequentemente para o incremento da produtividade.
Para tal, são necessárias rigorosas avaliações de riscos, onde testes periódicos avaliativos de stress sejam obrigatórios, conjuntamente com medidas permissivas de aferição dos desequilíbrios (fatores e grupos de risco), provocados pela exposição à pressão ocupacional.
Em conjunto, empregadores, quadros dirigentes e empregados podem combater, em benefício de todos, os riscos psicossociais relacionados com o trabalho. Uma ação eficaz sobre estes riscos contribuirá para um ambiente de trabalho saudável, uma cultura organizacional positiva e, consequentemente, objetivos concretizados.
Há um longo caminho a percorrer quer a nível teórico, quer a nível metodológico, pois esta é uma realidade que existe e que se faz sentir cada vez mais e com maior intensidade, nos locais de trabalho, refletindo-se negativamente com consequências para os trabalhadores, mas também para a produtividade das empresas e para a sociedade em geral.
*Licenciatura em Ciências Sociais; Director de Segurança Privada – Pós-graduação em Direcção e Gestão de Segurança; Docente da unidade curricular Direcção de Segurança I e II da Licenciatura em Gestão da Segurança, Emergência e Protecção Civil e dos cursos de pós-graduação /especialização e actualização de director de segurança na Universidade Atlântica; técnico superior de segurança no trabalho (nível 6); auditor de Gestão Civil de Crises, pelo Instituto da Defesa Nacional e auditor de Cibersegurança e Gestão de Crises no ciberespaço pelo Instituto da Defesa Nacional.
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