“Uma imagem vale mais que 1000 palavras”

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O Ciclope é uma ferramenta de detecção e apoio à decisão operacional no combate aos incêndios rurais e florestais e nasceu há quase 20 anos.O sistema está disponível para os operacionais da GNR e ANEPC em 10 distritos do país. Hoje, 33% do território nacional está coberto pelo sistema, através de uma rede de 100 torres de acompanhamento remoto, 18 centros de gestão e controlo e várias dezenas de centros de monitorização remota. O sistema está continuamente a ser alargado e melhorado, sendo previsível o funcionamento de 140 torres no verão de 2022. Recentemente, passou a contar com a AXIS, fabricante de equipamentos de videovigilância, como parceira, sendo já 30 as câmaras em funcionamento. A Security Magazine entrevistou Luís Silva, unit coordinator do Instituto de Novas Tecnologias (INOV), e Ricardo Pereira, Portugal sales manager da Axis.

Security Magazine – O projecto Ciclope nasce há quase 20 anos. Depois de cerca de duas décadas, como avalia a sua evolução ao longo dos anos?

Luís Silva – O Ciclope, como ferramenta de detecção e apoio à decisão operacional no combate aos incêndios rurais/florestais, é um feliz exemplo de como uma solução tecnológica se enquadra nas necessidades específicas de uma estrutura operacional, permitindo potenciar as suas capacidades e melhor rentabilizar os recursos disponíveis.

Surgindo como uma nova solução a navegar num mercado inexistente, teve de criar o seu espaço à custa da sucessiva demonstração das suas mais-valias.

Assim, podemos assumir que, durante a sua primeira década de vida, graças ao efeito de contágio criado pela operacionalização do sistema em novas áreas, o Ciclope percorreu um caminho de auto-afirmação que permitiu a criação de um novo mercado, afirmando-se, naturalmente, como referência.

Nos últimos oito anos foi possível verificar, de forma mais evidente, a existência deste novo mercado através dos sucessivos procedimentos de contratação pública, aos quais o Ciclope respondeu com uma taxa de sucesso extremamente elevada.

Ao nível da protecção da floresta, quais são as grandes mais-valias deste projecto para as autarquias, protecção civil e autoridades de uma forma global, bem como o  tipo de actuação e principais valências?

LS – A componente de detecção de incêndios, através da conjugação de câmaras do espectro visível e infra-vermelhos com um conjunto de algorítmos proprietários para a identificação de novos focos de incêndios, é reconhecida como uma grande mais-valia na execução da missão que a GNR detém na vigilância do território e detecção de novos focos de incêndio.

Porém, o Ciclope é significativamente mais valorizado pelos agentes da protecção civil, sejam eles da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC) , Serviços Municipais de Proteção Civil (SMPCV) ou corporações de bombeiros, dada a sua capacidade de fornecer informação crucial à tomada de decisão no momento de combate.

A monitorização e a geo-referenciação de qualquer área num alcance até 20km permitem agilizar, de uma forma extremamente eficiente, as decisões operacionais em todas as fases de gestão da ocorrência, apoiando os decisores na confirmação, localização, caracterização, acompanhamento, monitorização dos efeitos das acções de combate e o respectivo rescaldo.

Neste sentido, os municípios envolvidos acabam por ser os agentes de promoção da solução ao ambicionarem disponibilizar este conjunto de ferramentas aos operacionais desta área na protecção do seu território.

Luís Silva, Unit Coordinator, INOV

Quais são os aspectos mais valorizados por parte de quem aposta nesta tipologia de sistemas?

LS – O aspecto mais valorizado é, seguramente, o impacto positivo que este tipo de solução traz à cadeia de gestão operacional responsável por dar resposta à problemática dos incêndios rurais/florestais.

Seguindo o princípio de que uma imagem vale mais que 1000 palavras, a informação disponibilizada pelas imagens geradas pelo sistema, em qualquer fase da ocorrência, é significativamente mais rica do que a descrição verbal recebida pelos agentes no terreno, sejam populares através das comunicações efectuadas para o 117, vigias que integram a Rede Nacional de Postos de Vigia ou operacionais destacados no teatro de operações, através da sua rede de comunicações de voz.

A ferramenta é reconhecida no território nacional pela forma como facilita e potencia as decisões operacionais nesta área, na medida em que disponibiliza, aos agentes responsáveis, informação visual credível e isenta sobre o estado e localização da ocorrência, permitindo uma escolha fundamentada dos meios ativados em cada instante.

Actualmente, que áreas em Portugal já contam com a ajuda do Ciclope e em hectares e percentualmente que território já está coberto por estes equipamentos?

LS – O Ciclope está disponível para os operacionais da GNR e da ANPEC nos distritos de Bragança, Porto, Viseu, Guarda, Coimbra, Castelo Branco, Leiria, Santarém, Lisboa e Setúbal, através de uma rede composta por mais de 100 Torres de Acompanhamento Remoto e 18 Centros de Gestão e Controlo, assim como algumas largas dezenas de Centros de Monitorização Remota, permitindo assegurar a cobertura superior a 3,5 milhões de hectares, correspondendo a 33% do território nacional continental.

Cobertura do Ciclope no território nacional – a amarelo estão assinalados os projectos em curso, com resultados disponíveis parcialmente já neste verão de 2021.

O Ciclope tem ainda uma instalação na montanha do Pico que complemente a videovigilância com um conjunto de dispositivos de localização GPS que permite à entidade responsável pelo parque e aos bombeiros locais assegurar o cumprimento da rota definida para a subida e facilitar a pronta identificação e localização dos pedidos de apoio.

Em termos de número de torres e tipologia de equipamentos, o que já está implementado globalmente?

LS – Uma parte significativa das 105 torres em operação no território nacional dispõe da capacidade de detecção automática de incêndios, sendo que as instalações anteriores a 2018 não previram esta funcionalidade por não ter sido considerada fundamental pelos respetivos promotores, prevalecendo a funcionalidade disponibilizada como ferramenta de apoio à decisão na detecção e combate dos incêndios rurais/florestais.

Contabilizando os objectivos dos projectos em curso, durante o verão de 2022, teremos 140 torres em operação dos referidos distritos do território nacional.

O INOV continua a desenvolver esforços, no sentido promover a solução no mercado internacional, apostando em parcerias com agentes locais que permitam assegurar, tanto a interface com o cliente final, como a capacidade de gerir a componente técnica associada às acções de instalação e manutenção de uma solução com a complexidade envolvida.

Neste âmbito, foram estabelecidas várias parcerias para vários territórios no mundo que, até à data, permitiu concretizar duas pequenas instalações no sul da Europa, com duas torres na ilha grega de Chios e outras duas na região florestal da Província de Roma.

A parceria com a Axis é relativamente recente. Quais as principais razões que motivaram a Inov em integrar este novo parceiro no projecto? 

LS – A relação do Ciclope com a Axis nasce naturalmente através da disponibilização da gama de dispositivos integrados com câmaras do espectro visível e infra-vermelhos que permitiu cumprir os requisitos técnicos e funcionais necessários à integração na plataforma de software de forma compatível com as exigências específicas dos algoritmos de detecção de incêndios desenvolvidos pelo INOV.

No entanto, para além do cumprimento das especificações técnicas e do respectivo custo, a decisão sobre esta gama teve em conta a fiabilidade reconhecida da marca, sendo este um dos factores mais determinantes no sucesso da solução integrada e, portanto, da marca Ciclope.

Relativamente aos equipamentos da Axis, falamos de que quantidades já implementadas e de que tipologias e quais as suas grandes mais-valias para o sistema?

LS – Até ao momento, temos em operação 30 dispositivos IP bispectrais Axis-Q8742E/Q8752 que integram um sensor do espectro visível FullHD, com zoom óptico de 30x, um sensor térmico microbolometro (sem refrigeração) 640×480, com zoom óptico de 3x e com um sistema de posicionamento de elevada precisão, permitindo adequar às exigências dos algoritmos baseados em processamento de imagem para detecção de focos de incêndio iniciais até 20km. Naturalmente, o alcance da câmara térmica para detecção de novos focos poderá ser limitado pela atmosfera e resolução.

No entanto, o facto de permitir uma grande amplitude de campo de visão (FOV – field of vision), resultante do zoom óptico de 3x, contribui para que este dispositivo seja, também, potencialmente relevante no acompanhamento das ocorrências e monitorização da fase de rescaldo, contribuindo para minimizar o risco de reacendimento.

Qual tem sido o envolvimento da Axis neste projecto?

Ricardo Pereira, Portugal Sales Manager, Axis Communications

Ricardo Pereira – Em projectos desta complexidade é fundamental compreender a necessidade e apresentar a solução que melhor se adequa. Trabalhamos em parceria com os nossos distribuidores, parceiros integradores e clientes na avaliação de necessidades e obtenção da melhor solução para cada caso e este projecto é mais um exemplo dessa realidade.

Fomos desafiados a encontrar no portfólio soluções que permitissem dar suporte à detecção de incêndios florestais com a possibilidade de detecção a mais de 15Km de distância e esse foi o primeiro passo na nossa participação no projecto Ciclope.

Um dos nossos distribuidores, a Anixter, identificou esta oportunidade através do INOV e tendo conhecimento do nosso portfólio rapidamente foi possível colocar em andamento um piloto para aferir se cumpria com os requisitos. Ultrapassada a fase de testes com sucesso passámos à fase de implementação do projecto.

O projecto teve início ainda com a geração anterior da linha Axis Q87 pelo que no decorrer deste processo foi-nos possível passar informação útil e ajudar a equipa de desenvolvimento de produto com dados importantes para o novo modelo, além da actualização tecnológica de evolução do chipset pelo que vemos que este envolvimento é algo constante e que se vai prolongando no tempo sempre com o focus de melhorar a solução ao cliente/operador.

Que importância assume este projecto para a Axis?

RP – Este projecto é da máxima importância para a Axis por vários motivos. Temos como um dos nossos principais pilares uma política forte de sustentabilidade e preocupações ambientais, pelo que participar activamente na protecção das florestas é um motivo de orgulho para todos nós.

Sabemos que se trata de protecção florestal mas também de pessoas e bens principalmente em áreas mais rurais, o que eleva ainda mais o patamar de importância deste projecto. Esperamos poder continuar a participar activamente nesta e futuras fases destas implementações.

 Em termos técnicos, pode especificar o que contemplam estas câmaras Axis e quais são as grandes mais-valias da utilização destes equipamentos  em ambiente florestal?

RP – Pretendia-se uma cobertura a longa distância e que permitisse detectar durante o dia ou noite e enviar vídeo para suportar a decisão no Ciclope. O modelo escolhido, Axis Q8752-E Zoom é composto por duas lentes, uma térmica e outra de luz visível ambas com zoom.

No caso da lente térmica, o zoom permite-nos alcançar km de área e detectar fontes de calor e contraste térmico mesmo em condições atmosféricas adversas.

A detecção a vários Kms de distância com a lente térmica permite-nos ter um alerta e para a sua confirmação, temos disponível no mesmo equipamento outra lente, que combina um zoom óptico de 32x, tecnologia de imagem, Lightfinder baseada no novo chipset Artpec7 e que nos permite manter a cor mesmo em condições de baixa iluminação, duplo estabilizador de imagem em ambas as lentes e que permite ao operador tentar identificar visualmente e dar suporte às operações.

Para além destas grandes capacidades de ambas as câmaras, diria que a maior valia é a forma como ambas podem ser operadas de forma única e sincronizada. Esta combinação permite que o operador, quando detecta com a térmica tenha imediatamente disponível no mesmo alinhamento e nível proporcional de zoom óptico, a câmara de luz visível, podendo operar a câmara de luz visível com o zoom e posicionamento que veja mais conveniente para enquadrar a área a proteger.

Este sincronismo pode ser a diferença entre captar alguém a sair do local, um infractor ou mesmo a evolução da situação praticamente no mesmo instante sem necessidade de perder tempo a alinhar uma segunda câmara no local exato da incidência e perder dados vitais para uma investigação.

Esta tipologia de equipamentos pode ser implementada noutros ambientes e realidades? A que nível?

RP – Esta tipologia de câmara é bastante versátil. Pode adequar-se a clientes onde a detecção de intrusões é critica, locais com pouca iluminação e a grandes distâncias ou a detecção de fontes de calor para detectar fogos ou potenciais locais de combustão.

A combinação das duas lentes permite-nos aplicar esta câmara a diversos ambientes onde a câmara térmica deteta e a câmara de espectro visível permite a confirmação utilizando apenas um único equipamento.

Desde portos marítimos, proteção de fronteiras terrestres ou marítimas, aeroportos, infra-estruturas críticas na sua generalidade e obviamente locais onde se pretende a detecção de fogos seja pela detecção de fumo ou com base na carga térmica, são apenas alguns exemplos onde esta solução pode ser aplicada.

Este tipo de equipamento permite facilitar a deteção e a verificação de incidências o que num curto espaço de tempo permite optimizar vários custos que vão desde a instalação, operação e manutenção ajudando a justificar a sua escolha nos diversos ambientes.

Como perspectiva o futuro desta parceria?

RP – O Ciclope é uma plataforma de sucesso pelo benefício que trás na protecção das florestas. Esse benefício está associado à qualidade dos dados que lhe chegam para análise e nesse sentido, factores como a qualidade e a fiabilidade dos equipamentos instalados são muito importantes.

Sentimo-nos confortáveis nessas áreas pelo que acreditamos que com o decorrer do tempo a parceria será ainda mais forte. Investimos bastante no desenvolvimento, constante actualização e melhoria dos nossos produtos e soluções e mantendo um alto nível de resposta acreditamos que estamos apenas na fase inicial deste projecto e é com grande optimismo que encaramos esta parceria.

Sabendo, à partida, que esta tipologia de projecto não é estanque e permite, não só a sua expansão, como renovação. Como encara a evolução deste projecto e que novas implementações prevêem avançar nos próximos tempos, nomeadamente ao nível da cobertura a outras zonas do país?

LS – A evolução natural, já manifestada por alguns dos responsáveis locais, será a de alargamento a dois diferentes níveis: por um lado, o aumento da cobertura no território nacional através de novas instalações nas regiões actualmente não cobertas. Por outro, o acréscimo de funcionalidades em algumas das actuais instalações, nomeadamente, através da operacionalização da ferramenta de detecção automática de incêndios ou de sensores meteorológicos, cuja informação em tempo real, quando complementada pela imagem, se torna extremamente rica na compreensão do risco associado a cada ocorrência.

Sendo o INOV uma instituição de investigação e desenvolvimento nas tecnologias da comunicação e informação e electrónica, prosseguiremos o nosso esforço de evolução da plataforma CICLOPE, no sentido de optimizar as ações dos operacionais, de modo a reduzir o impacto negativo que os incêndios florestais impõem na vida económica e social do país.

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